Violão (4) – Cuidado! Tocar de tablatura não é exatamente o ideal.

Acho que vocês já devem ter notado que a disponibilidade (gratuita) de tablaturas não é muito abundante. E que não é incomum vermos pessoas catando em sites como “Cifras Club” tablaturas ou mesmo por ai pedindo versões de outros instrumentos as tablaturas. Essa insistência, tem dois fatos importantes que podem se tornar uma pedrinha no sapato se não forem observadas com antecedência, em especial para aqueles que intencionam viver de música, vamos as duas:

  • Tablatura não é partitura;
  • Tablatura é essencialmente ‘tocar sem cifras e notas’.

O fator é que não é o ideal fingir que está tocando sem saber que nota está tocando. Na tablatura só tem números representando as casas. Fica a seu critério saber ou não a nota. O problema disso é que provavelmente você não conseguirá passar uma música do violão para outros instrumentos e vice-versa.

Sua dependência fica bem óbvia aqui se você é um dos que se contentam em estudar ou tocar música usando a tablatura. Senão é o seu forte e tampouco vai seguir este ramo, tudo bem. Mas se vai seguir e precisa de acervo, vamos combinar, você está um pouco encrencado(a) se persistir por aqui. Vou contar uma experiência.

COMECEI O VIOLÃO E MAL TINHA TABLATURA.

A maioria das tablaturas completas são pagas, e quando não são pagas, estão cheias de acordes. Muitas inclusive são seguidas por percussão (os acordes), outras tocam a melodia. Mas maioria disponível são aquelas básicas. Pois, não tem tanta tablatura assim. Só que você já deve ter notado, que a partitura (usada para piano) serve para violão, não sabia?

Pois é aí que você tem que pensar em tocar violão de ‘verdade’. Tablatura é o equivalente a andar de bicicleta com rodinha. Ela não serve para sempre. Serve para te acostumar ao instrumento. Com um pouco menos de 3 semanas de práticas, eu já sabia passar música do piano ou outro instrumento para o violão, e das poucas tablaturas que achei (30) eu pude converter isso em 200 músicas. Bem é um salto e tanto.

Em parte porque sou pianista e tecladista, então a leitura da partitura já faz parte do cotidiano. No artigo anterior mesmo mostrei como passar a música do Horizon Zero Dawn para o violão. Vai por mim, não tem essa tablatura de graça. E maioria dos novatos ao violão, não sabe nada de teoria musical, pegam o instrumento pensando que vão fazer uma serenata que fazem as donzelas suspirarem de paixão. Mas no final ficam frustrados.

VIOLÃO E TEORIA MUSICAL.

A grande maioria que vai por conta própria, quase não possui teoria musical. Quando possui, é a mais básica possível. Só tem noção das 7 notas musicais. Violão não é um instrumento fácil. Apesar de ser popular, ter rodas de amigos, ser usado em muita coisa, ele continua sendo um instrumento díficil. O problema piora quando a pessoa que não tem teoria musical, insiste em aprender acorde antes de passar pelo básico.

Acorde é um campo harmônico que já exige da pessoa um nível de conhecimento e domínio do dedilhado bem acima da média. A maioria com certeza não tem esse jogo de cintura já compreendido. Todos os acordes padrões são pressionados por 3 dedos e alguns por 4 dedos e ainda tem o método da pestana, que é segurar uma coluna de casas nas 6 cordas, e usar os demais dedos para montar os acordes.

Então eu digo – “PARE”. Você não está neste nível ainda. Acordes é para depois. Você precisa trabalhar primeiro a melodia. Corda e pressão por casa. Trabalhar banger, hamming e slide. Entender partes do violão e fazer as músicas mais simples. Treinar todo dia e estudar a teoria. Não é nem possível progredir sem isso. Há quem ache, mas nunca saem do mesmo ponto.

Quando se estuda a teoria musical você já consegue por exemplo pegar partituras de outros instrumentos e converter para tablatura (só pra ínicio) ou mesmo tocar direto na partitura.

CRENÇA DO VIOLÃO POPULAR.

Como eu disse ali na teoria, as pessoas acreditam que como o violão é um instrumento popular ele é equivalente a facilidade. Embora ele não seja o instrumento mais difícil, ele não é o mais fácil. Piano é categoricamente mais fácil. Não se compare a executar peças de Vivaldi, Charlie Debussy, Mozart, porque estamos falando de prática.

Mas você consegue tocar por exemplo, a música do The last of us (série e game) com muita mais facilidade no piano do que no violão a primeira vista. Violão é preciso ter alguma certa prática no dedilhado. E no piano, você tem mais chances de ter as teclas as sua mão. Ainda é preciso prática, mas comparado, ele é mais fácil.

Daí acredito que as pessoas prefiram o violão, porque você o nota como um instrumento muito presente no dia-a-dia. As pessoas elas assistem os seus artistas que tocam entre violão e guitarra, muito mais do que assistir um pianista. E quando assiste, estamos falando de grandes compositores como Hans Zimmer e dali em diante, e mesmo em concertos. Aqueles clássicos. Com orquestra e tudo.

Mas a maioria das pessoas tem um contato com mais facilidade do cantor com o violão. Em bares com música ao vivo, é mais corriqueiro, violonista e guitarrista, e mesmo tecladista. Mas é muito mais o violão do que o piano. O Violão é visto como uma marca, no Brasil, um instrumento nacional do lado da bateria, do pandeiro e da corneta (ou a vulgo, vuvuzela). O próprio apito. Mas o violão é corriqueiro no dia-a-dia.

Então essa visibilidade persistente nos proporciona, que ele é tão presente. E isso engana. Porque ao olhar o seu artista, você pensa, que como ele, você também vai sair tirando um som. E isso não é bem uma verdade. Você pode aprender, mas não vai fazer um recital e nem um mini concerto de bossa nova. Não é assim.

Violão ele é cordas vibracionais e tensionadas. O dedo distante do traste já gera um desafinado. Então a disciplina e a cadência se fazem muito necessárias para tocar violão. E isso você não consegue em menos de 6 meses. É todo dia, dedilhando e fazendo música. Até seu cérebro entender como é que funciona. Depois de dominar o basicão, você começa a ousar a aprender acordes para tocar algumas coisas.

Começa com C, G, depois vai de um tom de maior para menor. Brinca entre eles. Depois procura partituras em que somente um grupo de acordes que você aprendeu aparece, para você ter mais fixação. E ficar nessa meses. Depois que você tiver aprendido muito bem acordes e juntamente da teoria musical, você vai ser capaz de começar a ter aquela sensação de tocar uma boa música. Até lá, é estudo atrás de estudo.

E a maioria desiste bem antes do tempo. Com ou sem aula com professor. Por conta própria a desistência é enorme. Com o professor, você só posterga, mas desiste também. Porque pensa que é só tocar a corda e tudo bem. Não é bem assim.

TOCAR INSTRUMENTO POR SI SÓ NÃO BENEFICIA, VOCÊ PRECISA USAR O SEU CÉREBRO.

Enquanto eu procurava por partituras que fossem necessárias para converter para tablatura ou diretamente delas. Eu via uma conversa entre aspirantes violonistas, que procuravam um conversor em formato de app (aplicação). Não faça isso. Se você quer aprender violão não use um sistema que facilite essa ‘tradução’, ou como eu disse, você não é um músico, é apenas quem pressiona uma corda ou tecla.

Você nem sabe que nota você está tocando. Só está seguindo uma sequência de casas. E você não treina a cabeça. E sobretudo, não tem os benefícios que estudar música lhe proporciona. Porque estudar música não é ouvir o som. É estudar a estrutura, é analisar o tempo, é identificar as oitavas e os tons. É essa parte que treina nosso cérebro. Se você vai tocar um instrumento e faz uso de aplicativos que automatizem esse processo e remove da sua frente, a possibilidade de estudar partituras, você está ganhando ZERO benefícios.

Tocar música não é o mesmo que ouvir música. Se fosse assim, bastaria você ligar um podcast, ou playlist ou spotfiy e deixar os benefícios virem. Mas não é isso. Tocar música, não é pressionar tecla. É estudar tudo o que tem para reproduzir uma música em um instrumento musical. Talvez você nem saiba que o violão é um instrumento melódico, que por percussão, que ele pode fazer, se vale dos acordes, mas ele está mais próximo do teclado do que do piano.

Que é bem provável que você tenha que estudar mais clave do sol do que clave do fá ou dó. No entanto se você entende que estudar música é apenas tocar instrumento sem perceber nenhum desses detalhes, você não está sendo beneficiado em aumento de qualidade de vida em nada.

Aquela recomendação de aprender um instrumento musical, não vai funcionar. Quando se fala de matemática, não estamos falando apenas do tempo, e sim da tonalidade, do pentagrama da partitura, da máscara, dos acidentes musicais, da escala, das oitavas, da composição harmônica e assim em diante.

Piano (1) – Como começar a estudar sozinho?

Sozinho, quer dizer autodidata. Sem professor, coleta de algum material e produzindo sua própria didática. Apesar de conceituar que é possível, posso afirmar que é desafiante. No entanto, não sou exatamente um exemplo de pessoa que fez o trajeto sozinho, estudei por 14 anos música e teclado. E Piano é um teclado erudito e sofisticado. E há um salto, quando tratamos de:

  • Tempo;
  • Clave de dó e fá (que é inexistente da forma que o piano tem para o teclado);
  • Músicas fieis ao original quando para piano, adaptados quando para teclado;
  • Partitura tem uma similaridade próxima, uma vez que há elementos que só piano tem.

Mas meu professor não era formado em teclado, e sim em piano. Apesar de ter aulas de teclado, a didática era de piano. E curioso, eu estudava teoria musical do piano, partitura e treino de escalas e cifras. A mão esquerda do teclado representa como tal o piano, a harmonia, percussão ou acompanhamento.

Apesar do piano compartilhar dos acordes, ele compartilha do dedilhado e de um conceito mais complexo. Que torna a dinâmica da canção rica e prazível. Tal coisa que no teclado fica apenas na agilidade e suprimido formato. Eu gosto de teclado, mas tem coisas que só piano é capaz de fazer. Toquei músicas que no teclado era apenas a parte da canção, no piano você descobre que a música é 3x maior.

A música do Gollum Song é relativamente pequena no teclado. No Piano é uma trilha longa. Pois que os detalhes, somente o ancestral do teclado é capaz. Dado essa complexidade, o piano se torna um instrumento trabalhoso. Mas quero dizer que não espanto todos a dizer, que trabalhoso não é impossível. Consequentemente você concluiu isso também. O foco fica no aprendizado. Embora não exclua que piano é um trabalho de disciplina, resistência e marcialidade. Vamos falar de 5 tópicos que servirão para você começar a estudar sozinho.

  • Tempo de treino;
  • Tipo de treino;
  • Repertório;
  • Tipo de música ou canção;
  • Teoria musical.

TEMPO DE TREINO.

Treinamento exige paciência. Se você nunca tocou um instrumento musical, o seu conhecimento é nível básico. Tudo parece difícil. Parece que nunca vai conseguir tocar um moonlight de Bethoveen ou um Claire de Lune de Debussy, ou um Temple of Time (Ocarina) de Kondi. Mas todo bom pianista começou com dedilhados. Pois que veremos no tipo de treino, que temos que exercitar a sincronia dos dedos.

Treinamento é diário. Não tem essa de treinar 2 horas 1x por semana. É como uma maratona. Para correr 45 km e manter o fôlego. Você treina aeróbica, musculatura e mente. Não existe um dia que essa filosofia não aconteça. A dieta tem que estar em dia e a disciplina deve seguir uma agenda. Se você bobear um dia, estando no começo, é estaca zero. Com o piano é do mesmo jeito. Se você acha chato não ter tocado uma música sequer nas duas últimas semanas, é porque você acreditava que tocar música no piano era feito com pouco esforço.

Não confunda esforço com sofrimento. Muitos confundem. Esforço é dedicação, estudo, ordem, disciplina e aprendizado. Como nível básico, seu aprendizado ainda é o mais superficial de domínio. Como principal deve pensar que quanto mais você treina, mais fácil fica. Então eu recomendo você ter um diário (físico), lápis, caneta e borracha, e anota o que você fez hoje. E vai comparando com o tempo. Assim terá noção do que você sabia antes e o que sabe agora.

Treinamento não pode ser um crossfit. Fazer muito de uma vez. Precisa fazer um pouco de cada vez, diariamente. Então para começo de conversa. Estude todos os dias, uns 10-15 minutos. Tanto a prática da música como a teoria musical. Tipos de notas, clave do sol, dó e fá. Escalas, cifras, tempo, máscara, acidentes (sustenido e bemois) e assim por diante.

Quando estudava nesta escola de música, eu tinha 2x por semana aula, mas estudava todos os dias sem exceção.

TIPO DE TREINO.

Não vá querer tocar música, em especial aquelas cabeludas de difíceis. Eu sei que a ansiedade é grande. Mas treinar técnicas, dedilhados, é o beabá de tocar concertos. Você não toca isso se não treinar. Os tipos de treinos que você precisa enfatizar são:

  • Treino de sincronia com as duas mãos;
  • Treino de assimetria (Mão rápida com mão lenta);
  • Treino de agudos e graves;
  • Treino de técnicas (Arpejos, unidas, mon gauche, toque livre etc);
  • Treino de ouvido (entender o tom);
  • Treino de pedal (Pianíssimo, abafador e sustentação);
  • Treino de tempo;
  • Treino de cover (Fazer a trilha no lugar da original, de forma simultânea a produção);
  • Treino de arranjos e composição;
  • Treinos de escalas (C maior, F menor e etc).

Aqui você aprende manobrar as mãos com músicas em que mais de 2 oitavas são usadas, execuções que exigem fôlego e resistência das mãos, memorizar músicas; táticas de deixas, rapidez na mão e na contagem e sensação musical.

O que te permite aprender músicas com facilidade, tirar de ouvido e compôr músicas. Tudo que você deseja.

REPERTÓRIO

É uma técnica para lhe permitir ter músicas para acervos. Seja para apresentação, pra tocar em um recital de família, para testar instrumentos quando precisar, para compor um concerto se precisar fazer um. Também é uma forma de você definir o seu gosto musical. Normalmente as pessoas diriam que música clássica, moderna e contemporânea fariam sentido na conjugação. Eu recomendo que você saiba um pouco de tudo, mas dependerá do que tem em mente. É certo que tocar piano é como jogador profissional de xadrez e degustador de vinho, todos tem o ponto em comum o chamado clássico. Faz sentido saber uma música clássica de Strauss, Litz, Bethoveen, Chopin, Bach, Vilvaldi. É um cartão de visitas. Como se diz, o que é bom nunca morre.

Músicas que seguem um ritmo menos ‘weird’ são desejáveis. Mas não estou aqui preparando a pessoa para passar em conservatório. E sim para tomar uma nota do que é possível para ser um pianista que puxe a atenção das pessoas. Ou se quer ser um pianista para si, pegue as músicas que acha que são legais, e estude-as.

Entenda o repertório como assuntos que você tem conhecimento e que seria capaz de abrir um diálogo com as pessoas. Você seria versado em filosofia, antropologia, física, história, literatura. Quanto mais você oferece, mais culto e atrativo se torna. Não é? Então, a mesma coisa se aplica a repertório musical.

TIPO DE MÚSICA OU CANÇÃO.

Aqui não é uma predileção por tipos. Mas que tipos, para assim você criar uma ordenação e compor seu pensamento sobre as trilhas que gostaria de considerar tocar. Vamos a elas:

  • Clássica;
  • Moderna;
  • Trilha Sonora de Filmes;
  • Trilha Sonora de Games;
  • Trilha de musicais;
  • Trilha de comerciais;
  • Composição;
  • Arranjos.

Muito comum as pessoas tocarem Trilha Sonora de Filmes, Games e Clássica. Qual seria o seu gosto musical?

TEORIA MUSICAL.

É a base do aprendizado da música. Consiste em um estudo literário e prático de conceitos que a música se concentra. Tempo, ritmo, tom, abertura, oitava, notas, cifras, escalas, claves ou chaves, acidentes musicais, técnicas, dedilhados, leitura da partitura, partitura, partitura solo ou orquestral, também se aplica a vocal.

Sem teoria musical você não toca música. Tem livros que ensinam a teoria musical e que precisa estar associado ao estudo da prática, senão não funciona. Defendo que a teoria musical é algo que apesar de muito básico para entendimento e introdução ao mundo da música, é algo que nunca para. Você estuda o tempo todo para entender o tempo todo.

Não vou soltar apenas esses 5 tópicos, eles serão orientações. O outro ponto é olhar para a música como um conceito de ritmos e matemática. Quando tocamos a música, não tocamos pensando apenas no som. E sim na construção do som. Tome nota que o seu progresso depende de seguir a risca o treinamento diário com sua curiosidade. É preciso gostar para aprender.

Até para aqueles que precisam aprender porque seria uma forma de ganhar uma renda, ainda existe o conceito sobre gostar de aprender, mesmo que isso possa ser uma agonia. É prestar por um lado que você precisa por uma necessidade. Esta necessidade é o estopim para gostar. Pense na música como um catalisador benéfico que lhe dará a solução do problema que enfrenta. Não é a toa que se fala que a música pode ser uma poesia e nos elevar a luz quando mergulhados nas trevas.

Música é marcialidade, disciplina e educação. E uma arte. Mas seria redundante em dizer, que a parte, porque arte é um conceito pouco explorado e muito visto como um ato deliberativo da imaginação e criatividade. A arte é uma soma da matemática e da expressividade, que engloba nossos anseios sociais e nossa convivência alter-ego. Logo arte é marcialidade, disciplina e educação em um formato menos simples.