Acho que vocês já devem ter notado que a disponibilidade (gratuita) de tablaturas não é muito abundante. E que não é incomum vermos pessoas catando em sites como “Cifras Club” tablaturas ou mesmo por ai pedindo versões de outros instrumentos as tablaturas. Essa insistência, tem dois fatos importantes que podem se tornar uma pedrinha no sapato se não forem observadas com antecedência, em especial para aqueles que intencionam viver de música, vamos as duas:
- Tablatura não é partitura;
- Tablatura é essencialmente ‘tocar sem cifras e notas’.
O fator é que não é o ideal fingir que está tocando sem saber que nota está tocando. Na tablatura só tem números representando as casas. Fica a seu critério saber ou não a nota. O problema disso é que provavelmente você não conseguirá passar uma música do violão para outros instrumentos e vice-versa.
Sua dependência fica bem óbvia aqui se você é um dos que se contentam em estudar ou tocar música usando a tablatura. Senão é o seu forte e tampouco vai seguir este ramo, tudo bem. Mas se vai seguir e precisa de acervo, vamos combinar, você está um pouco encrencado(a) se persistir por aqui. Vou contar uma experiência.
COMECEI O VIOLÃO E MAL TINHA TABLATURA.
A maioria das tablaturas completas são pagas, e quando não são pagas, estão cheias de acordes. Muitas inclusive são seguidas por percussão (os acordes), outras tocam a melodia. Mas maioria disponível são aquelas básicas. Pois, não tem tanta tablatura assim. Só que você já deve ter notado, que a partitura (usada para piano) serve para violão, não sabia?
Pois é aí que você tem que pensar em tocar violão de ‘verdade’. Tablatura é o equivalente a andar de bicicleta com rodinha. Ela não serve para sempre. Serve para te acostumar ao instrumento. Com um pouco menos de 3 semanas de práticas, eu já sabia passar música do piano ou outro instrumento para o violão, e das poucas tablaturas que achei (30) eu pude converter isso em 200 músicas. Bem é um salto e tanto.
Em parte porque sou pianista e tecladista, então a leitura da partitura já faz parte do cotidiano. No artigo anterior mesmo mostrei como passar a música do Horizon Zero Dawn para o violão. Vai por mim, não tem essa tablatura de graça. E maioria dos novatos ao violão, não sabe nada de teoria musical, pegam o instrumento pensando que vão fazer uma serenata que fazem as donzelas suspirarem de paixão. Mas no final ficam frustrados.
VIOLÃO E TEORIA MUSICAL.
A grande maioria que vai por conta própria, quase não possui teoria musical. Quando possui, é a mais básica possível. Só tem noção das 7 notas musicais. Violão não é um instrumento fácil. Apesar de ser popular, ter rodas de amigos, ser usado em muita coisa, ele continua sendo um instrumento díficil. O problema piora quando a pessoa que não tem teoria musical, insiste em aprender acorde antes de passar pelo básico.
Acorde é um campo harmônico que já exige da pessoa um nível de conhecimento e domínio do dedilhado bem acima da média. A maioria com certeza não tem esse jogo de cintura já compreendido. Todos os acordes padrões são pressionados por 3 dedos e alguns por 4 dedos e ainda tem o método da pestana, que é segurar uma coluna de casas nas 6 cordas, e usar os demais dedos para montar os acordes.
Então eu digo – “PARE”. Você não está neste nível ainda. Acordes é para depois. Você precisa trabalhar primeiro a melodia. Corda e pressão por casa. Trabalhar banger, hamming e slide. Entender partes do violão e fazer as músicas mais simples. Treinar todo dia e estudar a teoria. Não é nem possível progredir sem isso. Há quem ache, mas nunca saem do mesmo ponto.
Quando se estuda a teoria musical você já consegue por exemplo pegar partituras de outros instrumentos e converter para tablatura (só pra ínicio) ou mesmo tocar direto na partitura.
CRENÇA DO VIOLÃO POPULAR.
Como eu disse ali na teoria, as pessoas acreditam que como o violão é um instrumento popular ele é equivalente a facilidade. Embora ele não seja o instrumento mais difícil, ele não é o mais fácil. Piano é categoricamente mais fácil. Não se compare a executar peças de Vivaldi, Charlie Debussy, Mozart, porque estamos falando de prática.
Mas você consegue tocar por exemplo, a música do The last of us (série e game) com muita mais facilidade no piano do que no violão a primeira vista. Violão é preciso ter alguma certa prática no dedilhado. E no piano, você tem mais chances de ter as teclas as sua mão. Ainda é preciso prática, mas comparado, ele é mais fácil.
Daí acredito que as pessoas prefiram o violão, porque você o nota como um instrumento muito presente no dia-a-dia. As pessoas elas assistem os seus artistas que tocam entre violão e guitarra, muito mais do que assistir um pianista. E quando assiste, estamos falando de grandes compositores como Hans Zimmer e dali em diante, e mesmo em concertos. Aqueles clássicos. Com orquestra e tudo.
Mas a maioria das pessoas tem um contato com mais facilidade do cantor com o violão. Em bares com música ao vivo, é mais corriqueiro, violonista e guitarrista, e mesmo tecladista. Mas é muito mais o violão do que o piano. O Violão é visto como uma marca, no Brasil, um instrumento nacional do lado da bateria, do pandeiro e da corneta (ou a vulgo, vuvuzela). O próprio apito. Mas o violão é corriqueiro no dia-a-dia.
Então essa visibilidade persistente nos proporciona, que ele é tão presente. E isso engana. Porque ao olhar o seu artista, você pensa, que como ele, você também vai sair tirando um som. E isso não é bem uma verdade. Você pode aprender, mas não vai fazer um recital e nem um mini concerto de bossa nova. Não é assim.
Violão ele é cordas vibracionais e tensionadas. O dedo distante do traste já gera um desafinado. Então a disciplina e a cadência se fazem muito necessárias para tocar violão. E isso você não consegue em menos de 6 meses. É todo dia, dedilhando e fazendo música. Até seu cérebro entender como é que funciona. Depois de dominar o basicão, você começa a ousar a aprender acordes para tocar algumas coisas.
Começa com C, G, depois vai de um tom de maior para menor. Brinca entre eles. Depois procura partituras em que somente um grupo de acordes que você aprendeu aparece, para você ter mais fixação. E ficar nessa meses. Depois que você tiver aprendido muito bem acordes e juntamente da teoria musical, você vai ser capaz de começar a ter aquela sensação de tocar uma boa música. Até lá, é estudo atrás de estudo.
E a maioria desiste bem antes do tempo. Com ou sem aula com professor. Por conta própria a desistência é enorme. Com o professor, você só posterga, mas desiste também. Porque pensa que é só tocar a corda e tudo bem. Não é bem assim.
TOCAR INSTRUMENTO POR SI SÓ NÃO BENEFICIA, VOCÊ PRECISA USAR O SEU CÉREBRO.
Enquanto eu procurava por partituras que fossem necessárias para converter para tablatura ou diretamente delas. Eu via uma conversa entre aspirantes violonistas, que procuravam um conversor em formato de app (aplicação). Não faça isso. Se você quer aprender violão não use um sistema que facilite essa ‘tradução’, ou como eu disse, você não é um músico, é apenas quem pressiona uma corda ou tecla.
Você nem sabe que nota você está tocando. Só está seguindo uma sequência de casas. E você não treina a cabeça. E sobretudo, não tem os benefícios que estudar música lhe proporciona. Porque estudar música não é ouvir o som. É estudar a estrutura, é analisar o tempo, é identificar as oitavas e os tons. É essa parte que treina nosso cérebro. Se você vai tocar um instrumento e faz uso de aplicativos que automatizem esse processo e remove da sua frente, a possibilidade de estudar partituras, você está ganhando ZERO benefícios.
Tocar música não é o mesmo que ouvir música. Se fosse assim, bastaria você ligar um podcast, ou playlist ou spotfiy e deixar os benefícios virem. Mas não é isso. Tocar música, não é pressionar tecla. É estudar tudo o que tem para reproduzir uma música em um instrumento musical. Talvez você nem saiba que o violão é um instrumento melódico, que por percussão, que ele pode fazer, se vale dos acordes, mas ele está mais próximo do teclado do que do piano.
Que é bem provável que você tenha que estudar mais clave do sol do que clave do fá ou dó. No entanto se você entende que estudar música é apenas tocar instrumento sem perceber nenhum desses detalhes, você não está sendo beneficiado em aumento de qualidade de vida em nada.
Aquela recomendação de aprender um instrumento musical, não vai funcionar. Quando se fala de matemática, não estamos falando apenas do tempo, e sim da tonalidade, do pentagrama da partitura, da máscara, dos acidentes musicais, da escala, das oitavas, da composição harmônica e assim em diante.