O funcionalismo da adaptação de Livros para Filmes (2)

Parte 1 – clique aqui para ler.

Resumo: Adaptação muda o como e não o quê. Alteração muda o quê e consequentemente o como. Para inteirar-se sobre do que falaremos, a leitura da parte 1 é essencial. Vamos analisar livro e filme — O Iluminado. Vamos lá?

Primeiro que devemos realmente afirmar, o filme e o livro são duas histórias distintas. Acredito que alguns irão concordar e outros discordar. Por isso o entendimento da parte 1 se faz bastante necessário, apesar do resumo, não creio que terão base para compreender de forma resoluta, quando digo que o filme de Stanley Kubrick não é a mesma obra de Stephen King.

Segundo, o protagonismo do filme fita Jack Torrance, já no livro foca em Danny. Aqui conseguimos entender quando falamos de “importância” do título (The Shining, O iluminado). Acaba que o filme também foca demasiadamente no Hotel, Danny e Wendy são meras partes figurantes do enredo, e Dick Halloran premia-se mais como aquele sujeito que irá apontar para nós, que o menino, tem poderes. Mas no filme isso é tão sublinhar — Halloran morre (não é novidade).

Terceiro, no livro Halloran não morre. Foca em Danny, Wendy e Jack (como núcleo familiar). Foca na vida anterior de Jack antes dele chutar o balde e o colocar neste pesadelo. Na vida da Wendy e sua força dedicada a manter uma família unida apesar de todo o desgaste, sua relação com sua mãe tóxica e Danny e sua relação estreita com o amigo imaginário Tony. Um detalhe que é bastante precioso, tudo o que eu acabo de descrever, acontece essencialmente antes deles irem para o Hotel.

Quarto, enquanto o filme foca no surto de Jack sem dar maiores explicações, associa-se esquisitices do Hotel, que podem beirar a nossa interpretação da loucura de Jack ou de fato o Hotel é mal assombrado — devido as ocorrências com Danny e Halloran podemos considerar que talvez o sobrenatural não seja uma parte infundada, mas mesmo assim, dado o histórico de violência de Jack, de um ambiente familiar um pouco desequilibrado, o garoto poderia ser uma criança traumatizada que tem um amigo imaginário e que imagina outras coisas mais.

O livro foca em Danny e seus poderes, sua relação com este termo Iluminado, Halloran. Wendy tem muita mais presença, não é apenas uma figurante. Jack é construído de um bem sucedido profissional de literatura a um beberrão decadente, revelado a carga emocional de um casamento em ruínas, uma família disfuncional, até que a oportunidade do Hotel se forma, e Jack o vê como uma chance de integrar á todos.

A distância do filme e livro é tão brutal, que podemos dizer que não é adaptação, e sim alteração completa do enredo, do foco, do conceito dos personagens, do background, da consequência. Mesmo que no livro Jack não vai para em uma foto de 1921, o Hotel acaba em chamas. O Filme vende a ideia de um marido e pai violento que cai na graças de um hotel assombrado.

O Livro em sua contrapartida vende uma ideia oposta, que é praticamente mostrando que Jack não é precisamente um marido idiota e nem um pai negligente, a relação pai e filho é bem mais evidente no livro (por isso que a transformação dele na escrita é bem mais trágica).

Stephen King chegou a criticar Kubric em sua ‘adaptação’, ele mesmo escreveu um roteiro que foi totalmente descartado pelo diretor. Há alguns que o admiram por sua destreza aos detalhes expressionistas que adotava em suas produções. Particularmente o acho prolixo e desnecessário. 2001 uma odisséia é um filme com proposta genial, execução odiosa. Se fosse feito por outro diretor, talvez me agradasse.

Sinto que Kubric é como aqueles artistas, pintores que tiram das telas uma obra, mas por obsessão a estraga com rabiscos que parecem uma criança de cinco fazendo círculos até a tela furar. Aqueles que gostam dele terão suas devidas razões. Não precisam usar os comentários para contradizer, o meu gosto em relação as obras dele não será revertido.

A parte disso, a história não tem qualquer relação com o livro, usa elementos do livro, como o hotel, os elementos de assombração. Mas a parte do iluminado mesmo fica quase 100% de fora, a tensão da loucura que o Hotel perpetra é quase imediata, Wendy parece uma estepe e Jack é o principal. Ao nosso comparativo, o livro em 80 páginas inicias descreve cada personagem, alinha-os com seus objetivos, e garantem que a gente possa compreender onde eles estão em suas relações como pai, mãe e filho.

O que me impressionou no livro é que REDRUM é citado muito antes deles irem para o Hotel. O quarto 217, as assombrações do Hotel. E existe um elo de Danny com Jack, que o filme sequer cita ou mesmo trabalha. Como Frank Darabont – clique aqui para ler sobre as diferenças do livro e filme — ainda que tenhamos uma alteração mínima no final — a mudança foi motivada por um combustível tão fútil, que foi segundo o diretor – “Chocar”.

Kubrick não esconde que mudou a trama apenas porque queria reinterpretar a obra de Stephen King. No lugar do iluminado, fez um “Assassino do Hotel Overlook”. Um pitaco de outro universo, Until Dawn oriundo de game quando adaptado para filme, não ficou horrível, mas a história da Supermassive games era melhor. Transformado a lenda dos Crees (Wendigos) e algo muito Sexta-feira 13. (Não sei, me parece que os diretores tem uma perfeita história e resolvem jogar tudo fora).

Voltando, o livro Iluminado ao que consta, nunca foi adaptado. Vamos esperar por uma oportunidade. Apesar da série dos anos 90 e conseguinte o Dr. Sono que se trata de Danny adulto (preciso rever), o precursor ainda é ausente a realidade. Até porque quem gosta do filme provavelmente não se sentiria ofendido se lesse o livro. Serão duas obras para entreter.

E antes que comentem – “Adaptação não significa fidelidade”, leiam a parte 1. A compreensão desse termo se faz tão necessário, porque o que se repete por clareza, é que ele é equivocadamente entendido como ‘alteração’. E entendam são dois termos distintos.

Curiosidade sabia que o IT foi citado dois anos antes do livro?

Fiquem ligados

Análise Literária (2) – Navio Misterioso de LoveCraft

Obras que cativam pela forma que são elaboradas é um exemplo que acontece neste conto de Lovecraft. A crônica é sobre um misterioso navio e desaparecimentos de pessoas. Primeiro tudo é contado como se fossem missivas com cortes de informação feitas em um arranjo do tipo por datas, com fatos omissos.

É definido assim, versão curta. É como se fossem pareceres que foram recolhidos de uma cena do crime, no entanto, somos levados a crer que o navio tem um mistério sobrenatural. Assim nos levamos em uma narrativa que parece uma brincadeira típica de nossas infâncias conhecida como “Repete a última coisa que falei com a parte nova”.

Como se fosse um truque de mágico querendo nos iludir para esconder a moeda. Depois que a parte curta é apresentada. Vem logo em seguida a versão longa, que inclui no texto, as partes ocultas que revelam que nada de misterioso há e tampouco sobrenatural, e sim uma comitiva pirata que havia deflagrado com problemas, pessoas em lugares diferentes e motivos bem menos nobres.

Muito das narrativas de Lovecraft não são exatamente sobre anormalidades. E o seu uso da escrita prioriza os detalhes como uma forma de contar com o suspense, como se tudo fosse normal e que por acaso, ali, escondido nas moitas, houvesse apenas um ser estranho, quando você apenas pensa em regar as plantas. Foi assim com o conto “O que vem da lua” deste mesmo autor.

Assim se repete pelo Stephen King quando elabora a narrativa, espreitando apenas detalhar a cena, como se tratasse de um texto arranjado sobre decoração de interiores, e no final, estavam querendo nos inserir na cena de tão concreta que ela seria. E de repente, faz uso da linguagem comum, para apresentar o monstro, o fantástico, o sobrenatural e o segredo.

Em outro conto de Lovecraft é comum por exemplo apresentar a ideia em uma perspectiva de primeira pessoa, onde o que o leitor lerá é como se fosse ele descobrindo tudo em primeira mão, sem poder, de antemão, capacitar-se do ambiente, dos elementos, do final ou do que virá. É o caso da Fera na Caverna.

Em Outsider de Stephen King a história é contada como se fosse um romance policial comum. E o monstro é representado por uma figura tão humana ao normal, mas que nos faz perguntar se há algo de anormal no caso, dada descrição que faz pouco caso a um famoso episódio de Arquivo-X. Mas tratando como se fosse um episódio comum de House.

Navio Misterioso não tem um pingo de sobrenatural, tampouco terror, de suspense na medida certa. E que nos pensar, ou deduzir, tardiamente, que se tratava apenas de fatos contados pela metade de um conflito entre piratas e a marinha americana.

Diferenças de Nevoeiro de Stephen King e Frank Darabont.

Obs: Nenhuma parte deste artigo fora escrito por uma Inteligência Artificial.

Na década de 1980, Nevoeiro (título original: Mist) fora escrito por Stephen King, publicado originalmente na revista Dark Forces e posterior, no livro de bolso — Tripulação de Esqueletos em 1985. Em 2007, o diretor Frank Darabont, lançou o filme que brindaria os acontecimentos de um projeto secreto militar e uma inesperada fenda entre as duas dimensões, apresentando o terror inimaginável — impondo duras decisões aos habitantes — iremos neste artigo falar sobre a diferenças entre livro e filme.

A narrativa se desenrola entre o espanto da misteriosa névoa que cobre a cidade e a revelação do pior lado do ser humano — quando são confrontados com a necessidade de sobrevivência. Entrei em contato com essa história a princípio pelo filme, descobri posteriormente que se tratava de um conto do autor King e levei um bom tempo para achar o livro. Que por sua vez não seria encontrado como um livro a parte, mas como um dos contos contidos na Tripulação de Esqueleto (1985) .

A distinta parte que podemos apurar entre a obra literária e a adaptação cinematográfica, pode ser localizada no seu desfecho. Stephen King não opta pelo radical; e no final da obra, David não tira a vida de seus vizinhos e tampouco do seu filho. No lugar de tal decisão chocante, eles saem do mercado e seguem indefinidamente por entre caminhos.

“Acima daqueles aparentes hieróglifos havia uma figura de evidente intenção pictórica, embora sua execução impressionista não permitisse uma ideia muita clara acerca de sua natureza. Parecer ser algum tipo de monstro, ou símbolo representando um monstro, e tinha uma fora que só poderia ser concebida por uma uma imaginação doente.” (O Chamado de Tchulhu, Pg. 299)

Mas o livro não corta para uma finalização em que o veículo simplesmente desparece e a letra miúda ‘fim’ surge. Eles passam em suas casas à procura de seus familiares, transpassam rodovias à procura de outros sobreviventes e testemunham uma selva de criaturas bizarras retorcendo nas árvores, alados insetos pousando no capô, tentáculos à espreita e claro, o encontro com a enorme criatura que chega a esbarrar na lateral do carro deles. Eles testam frequências rádios a procura de refúgios, na obra, o nevoeiro não é escoado e o exército não surge para salvar a todos.

“Existem coisas de tanta perversidade e horror – suponho que assim existem coisas de tamanha beleza – que elas não conseguem cruzar as insignificantes portas da percepção humana” (Nevoeiro, Pg. 222)

Aquela dimensão estranha, que foi acidentalmente aberta pelo projeto denominado ‘Ponta de flecha’ permitiu que alguma realidade onde criaturas com características similares ao nosso mundo, reproduzia em um circo de horrores aberrações como aranhas com face de caveiras, insetos gigantes e uma enorme aparição com silhueta de crustáceo mutante, a leitura nos permite entender que há um mundo novo a explorar, sem saber se há chances de sobrevivência.

Agora quanto ao filme, temos a mesma saída do mercado com os mesmos personagens, a brutal diferença é que no lugar de David poupar a si o destino de ser o algoz, pensando em ser o salvador, ele decide tirar a vida dos seus vizinhos e de seu filho, com a intenção de preservá-los ao sofrimento de serem atacados ou devorados.

O encontro com a criatura gigantesca acontece como no livro, a passagem na vizinhança a procura de sobreviventes. Mas os testemunhos de ver criaturas percorrendo os lugares, acompanhando sua incrível a adaptação ao nosso mundo, não acontece.

E após o ato hediondo de David, alguns minutos posteriores, percebemos que se ele tivesse esperado teria conseguido superar aquela situação agonizante, uma vez que uma tropa de militares expurgava as criaturas, incendiando-as, e conforme se aproximavam do carro deles, a névoa ia ao poucos se dissipando.

Em um documentário, o diretor Frank Darabont justificou a mudança do livro por um final que ele achou que seria mais interessante. O motivo dessa adaptação, era de que ele intencionava chocar o público com um ato deliberado e desesperado de um pai. Como se o conto já não fosse o chocante o suficiente.

Ameaça profunda: Vale à pena?

O filme de ficção científica estrelado por Kristen Stewart nos leva as profundezas dos oceanos com uma crítica social e um levantamento psicológico. O terror pode ser comparado a produções como o Segredo do Abismo, Alien, Tubarão e a Esfera. Tantas referências que vamos citar mais uma, o que tem haver com gênero literário, Lovecraft.

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De uns tempos para cá, a influência dos romances e da origem do terror moderno, juntamente de Edgar Allan Poe, H.P Lovecraft começou a ser recriado em produções cinematográficos e através de jogos eletrônicos. Algumas experiências foram fidedignas, outras nem tanto. A base principal é que vemos uma reprodução mais legítima do Imperador, uma forma alien do planeta 4546B no titulo Subnáutica.

O destaque vai para fotografia, para o design do ambiente submarino e as armaduras. Para quem é fã de Mass Effect. E quem já jogou Narcosis, vai notar uma similar coincidências das criaturas e da história. A crítica social fica para a exploração marítima sem limites das competências industriais modernas. Perfurando sem consciência alguma, será que o leito do mar reserva inesperadas consequências?

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E o outro ponto é o aspecto psicológico da protagonista Norah (Kristen Stewart) que revela um passado traumático e com a consciência de estar sob pressão literalmente, não apenas a pressão submersa. Ela toma a decisão, baseado no temor interno. E que o filme traduz através das criaturas e da implicação que de tudo que cada ser humano da base depende é da pouca estabilidade da base á 11 km de profundidade e a pouca ações que eles podem fazer para sobreviver a qualquer descuido.

O famoso monstro idealizado e cada vez toda reproduzido nas produções que querem ser assinado embaixo por ser Lovecraft, é o Tchulhu. Em Nevoeiro de 2008 a adaptação cinematográfica dirigida por Frank Darabont de Stephen King, apresentava o mascote do mestre do terror do começo do século 20 em sua forma mais dócil. Um ser enorme com a boca de tentáculos transitando momentos antes  de terminar o filme.

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Em Ameaça profunda a criatura dar o seu ar em uma versão medonha que possui os pés em formatos de tentáculos, o torso lembrando de um homem robusto e a parte superior como de um polvo gigantesco. Sem falar do medo esculpido nas mentes do incautos. O que fazer no mundo submerso onde as leis da física favorecem as criaturas e não você? E o tempo está contando contra?

A empresa mineradora lembra muito a Umbrella Corporation, da série Resident Evil. A todo custo encobre problemas de suas operações. A ponto que vemos um episódio desse problemas em primeira pessoa. O que vemos é que o problema parece estar ficando pior. E talvez em breve, não há possibilidades de voltar a atrás. O final é surpreendente. E talvez fosse um laboratório positivo para um reboot das sequências do Cloverfield?

Respondendo, vale a pena.