Empregando Master Scenes em animações.

O roteiro descreve ações, e não emoções. O que vemos, e não o que sentimos.
Bem antes de começar a carreira administrativa, mais precisamente voltada para atendimento e refinamento de clientes e documentos, respectivamente. Eu fiz uma breve carreira de 5 anos como diretor e produtor de animações 3D. No entanto não estou fora de circuito. Não é falta de tempo ou disposição. No entanto gosto de fazer com um preparo, e para isso lhes apresento uma técnica de roteirização para cinema só que vista pelos olhos para uma animação.
Iremos considerar a animação fluente (Sem paradas, com fluidez) e quadro-a-quadro (Stop Motion).
Breve histórico…

Desenhar cenas 3D, animar baseado num roteiro e pós-produção.
Comecei a mexer com design e animação quase simultâneo e isso foi em 2006 quando aprendi a programar com C e a biblioteca gráfica OPENGL, li um livro parecendo uma bíblia, conheci a tática por um fórum. A primeira coisa que fiz foi uma ou duas páginas de programação em C para fazer uma esfera sem textura com iluminação básica sem especularidade ou complexidade física girar no mesmo lugar (rotação). Com o interesse em agilizar o trabalho, já que programar pode parecer NERD, é uma coisa do passado – quem programa é quem adora MAINFRAME e isso pode parecer uma mão lava a outra quando os recursos funcionais deixam de dar cabo. Aliás a exclusão de uma ferramenta não é para sempre nos primeiros momentos, pode ser substituída assim por dizer.
Então no começo de 2007, parti para uma ferramenta o qual chamava-se Lightwave havia uma escola de formação de CG – no entanto era muito duvidosa sua existência, já que a mesma não disponibilizava seu CNPJ, fiquei com o pé atrás. E se faço numa instituição ilegal e não posso tirar o certificado? Então parti para o conceito autodidata que levei comigo até hoje, e percebi que é uma tendência já que atuando na área administrativa, percebo que isso cai como uma luva.
Em janeiro de 2007 eu iniciei-me na arte 3D usando o programa Blender (na época na versão 2.43 e atualmente 2.60) – neste período entrei em contato com Photoshop, Gimp e outra técnica de animação tirando a 3D, o chamado Stop Motion. No mesmo ano eu entrei em contato com o Anima Mundi, e fui para amostra final com uma animação intitulada – “A vida é maravilhosa” por um fragmento da frase de Charles Chaplin – “A vida é maravilhosa para quem não tem medo dela“. Havia feito até o final do ano um total de 60 trabalhos e 6 animações. Quando adentrei o ano de 2008 trabalhei numa empresa de projetos usando maquete digital (tema de minha monografia um ano após – o qual designei como ‘Preservação ambiental utilizando maquete digital’) logrando 100.0 na apresentação escrita e demonstrativa – o qual mostrava uma réplica de uma das famosas praças da Zona Norte do Rio de Janeiro.
Em 2009 também ingressei no teatro, onde então descobri a técnica Master Scenes, conteúdo deste artigo de hoje. No mesmo terreno de encenação pude aprender técnicas de atuação (o lado do ator dessa vez) já que nos últimos 3 anos vinha alternando entre os papéis de produtor e diretor/roteirista. Meus atores eram compensados pelos objetos, sem vida e sem reclamação. A visão do BackStage e in Stage me deu uma visão muito ampla do que é fazer uma produção cultural, direção, coordenação e geração de documentação – o qual destaco-me em lidar com gerência de projetos.
Estamos aí agora inovando a idéia de que o Master Scenes possa orientar não só nossos colegas da cinematografia, e sim de qualquer forma que necessite de um roteiro. No entanto vamos no ater a questão da animação Stop Motion, onde temos atores que podemos observar como sendo também inanimados.
Master Scenes – Vantagem.

Roteirista precisa descrever a ideia visual, o diretor gera a mágica.
Eu lido com otimização de processos de projetos faz um tempo, e o que mais vejo acontecer é um cronograma apertado que exige um resultado ao famoso slogan da ILM – “Criando o impossível”. É maravilhoso conseguir tirar leite de pedra, o problema surge quando temos um tempo radicalmente pequeno para uma descrição do trabalho quase inexistente. O processo de roteirização nasce após uma gerência completa de processos de um projeto. São várias etapas antes de virar um roteiro com descrição de cena, transição, características de atores e falas. O roteiro facilita muito a vida de quem vai colocar a idéia em prática.
A idéia só pode ser vaga no primeiro momento que a recebemos, e isso de primeiro momento é aqueles 5 segundos que ouvimos ela ser proferida. Depois temos uma certa obrigação em entender o que esta idéia significa. E posso parecer supérfluo quando digo ‘entender um significado de uma idéia’ quando o propósito de um roteiro é tornar tudo claro. O roteiro é quando a idéia esta clara, e não torna-la clara. Existe um tênue justificativa aqui. As minhas leituras de Master Scenes já passou por diversos autores, o primeiro foi Hugo Moss – e em todos eles, por mais que tenham a melhor das intenções – eles não passam suas experiências práticas para a obra.
Então vou ser sucinto, espero ser – um idéia clara na fase de gerência de projeto é de uma frase como – “O deleite de minha sabedoria exposta no museu” virar “Minhas pinturas feitas a mão serem expostas no Teatro Municipal”. De uma poesia, virou algo palpável. E acreditem chegar nesta tradução não é uma etapa fácil. O roteiro só vai esclarecer ações audiovisuais. Ele não carrega emoções, metafísica ou surrealismo. Isso fica a cabo para pós-produção (documento separado) e atuação dos atores (MOCAP ou reais).
Então não é feito uma descrição demasiada, é feito só um testemunho dos fatos – “PEDRO VAI ATÉ A JANELA” você já imagina uma pessoa chamada PEDRO indo até uma JANELA. Ficou fácil de visualizar? É isso que o roteiro Master Scenes oferece. Facilidade de visualização de ações, objetos de cena (Carros, poltronas, props em geral), atuação dos personagens. Tornar claro cada movimento, sem usar de uma literatura abundante de termos.
É hora de revisar.
Para ser conclusivo, o Master Scenes insere a vantagem de ser um guia de ações de uma produção sem muito delongas, com aquilo que se vê deixando de lado detalhes complexos de descrição ambiental e orgânica. Fazendo atos conforme manda o figurino. Imagine quantas coisas pode acontecer entre o ponto A e B que o PEDRO vai percorrer até a janela. Prever não é uma tarefa do roteiro, e sim apenas descrever sucintamente.
Como funciona – Literário e roteiro?

Adaptar roteiro não é uma tarefa fácil – filtrar elementos relevantes e irrelevantes.
Com certeza a maior mágica é você ver um trecho daquele livro que você mais gosta virando numa cena de cinema. Imagine o que é adaptar uma obra literária num roteiro. Imaginar aquela descrição de uma cena de amor, num roteiro. Num roteiro não existe – “Aquele gotejar alucinante de beijos carnudos…” no roteiro existe Maria beija Carlos. Nossa, como vai então fazer aquele gotejar alucinante?
Confundindo para ensinar.
Se vocês já trabalharam como framework, workbench ou templates de gerência de projetos vão entender, mais rápido, o que significa o roteiro com a técnica de Master Scenes. Senão, eu oriento. São modelos de trabalho baseados numa realidade – se você é uma pessoa que trabalha no hospital, existe uma verificação fiscal chamado GLOSA que é um documento padrão preparado para averiguar todos os gastos e ganhos reais de um hospital num determinado tempo, é feito uma avaliação mais a fundo do que o modelo de fisco normal.
Outro exemplo é o seguinte, imagine como seria uma dificuldade se para cada pessoa no Brasil fosse emitido uma declaração de imposto de renda com campos totalmente diferentes. O padrão do formato é que resolve estes casos, salvo algumas situações – os demais tem o mesmo padrão de preenchimento, não é mesmo? O Roteiro torna uniforme as informações, já claras, mais claras ainda para uma filmagem ou produção – como queira chamar.
Bem agora que temos já fundamentado o item anterior – “Vantagem” com a definição de usar um roteiro, e usar o Master Scenes que gera blocos dramáticos – cada cena ocupa geralmente uma página onde é feito uma análise sem problemas do que vai encontrar. A imaginação fica solta para dar asas ao roteiro – sai o trabalho do roteirista e entra do diretor (independente se são as mesmas pessoas) – roteirista (formata a idéia) / diretor (projeta a idéia).

INTERNA – CORAÇÃO DE OURO
Vou dar um exemplo de roteirização usando elementos do MASTER SCENES do livro “O guia do mochileiro das galáxias” de Douglas Adam (capítulo 17, pág. 122 – parágrafo 2ª)
“Arthur bebeu o líquido e sentiu que ele o reanimou. Olho para as telas de novo e viu mais algumas centenas de quilômetros de deserto cinzento passarem por eles. De repente resolveu fazer uma pergunta que o vinha incomodando há algum tempo.”
Em roteiro não existe licença poética, não tem descrições não visuais. Exceto para alguns casos como por exemplo – definição útil para a cena (é necessário informar que um avião passou zunindo – ouve-se o ZUNIR DO AVIÃO c.q.d)? É importante para a cena, para história. Havendo um contexto a cena precisa ser baseada em precisão.
(Os demais elementos tirando as ações do nosso personagem Arthur Dent serão explicados mais a frente)
INT. CORAÇÃO DE OUROÓRBITA DE MAGRATHEA
ARTHUR bebe um líquido e olha para tela a sua frente. E fala com ZAPOD
Simples assim? Para fazer um roteiro é prática. A descrição que somos obrigados a reduzir, da forma que vemos e ouvimos não é tão trivial como parece. Imagine descrever um livro como Harry Potter em cenas lúdicas como a luta de Voldemort e Harry Potter em Relíquias da Morte? Imagine que é feito um refinamento de descrição ambiente, descrição do personagem e tudo que se passa na cabeça dos personagens. Tudo é percepção do ponto de vista do personagem. No nosso exemplo do Arthur Dent temos percepções do nosso personagem, e não que seriam percebidas pelo leitor se Douglas Adams não tivesse externado em palavras.
Na primeira parte “(…) e ele sentiu que o reanimou” o que isso pode ser em termos de expressão corporal? Muitas coisas. Muitas pessoas se recostam na parede, pode ser um relaxamento, a pessoa pode ranger os dentes (Estou bem melhor agora, estou pronto para outra) a sensação que Arthur sente não é visível aos nossos olhos, pode ser – daí o entendimento que o Master Scenes pode ser uma luva para quem realmente percebe que ele é uma técnica que facilita um trabalho já complexo até aqui.
É hora de revisar.
Não vemos a tristeza, mas ela pode ser externizada de várias formas, correto? Lágrimas, beicinho, cabisbaixo, não falar nada, estar em choque, sofrer de histeria (rir, ao invés de chorar, pode ser desespero). Isso é papel do ator, a atuação. O roteiro só descreve o que se vê, e não como vai ser visto. Não é uma pós escritura, é pré escritura. Acho que posso me fazer entender até aqui – esta técnica é demasiadamente descrita como simples de entender, as regras de formatação sim. Mas para escrever um excelente roteiro é necessário compreender que roteiro, contexto, argumento, drama e literário andam paralelos – mas existem linhas divisórias muito definidas.
E nesta altura podemos definir adaptação de roteiro.

Adaptação de roteiro.
Adaptação de roteiro. Vemos inúmeros fãs se roendo de raiva porque não viram aquela cena do livro no filme. Imagine se fosse colocar a trama dos senhor dos anéis no filme. Eu esporadicamente ouvi, nem li – que aquela pesquisa de Gandalf pelo anel demorou 15 anos. Que revelância isso teria para história?
Vários argumentos – “O tempo de demora denotaria que nem mesmo um sábio, como Gandalf, acharia vestígios de um anel temido e esquecido. O que representa um temor maior.” este argumento já era invalidado, já que as cenas incluídas e lapidadas pelos roteiristas e diretor foi capaz de substituir 15 anos em algumas cenas, e trocas infalíveis de STORY IN FIVE MINUTES. É óbvio que se formos seguir o que o livro diz em cada letra, não há roteiro que aguente. Em média uma cena significa 1 minuto de filme, e uma cena geralmente é escrita por página. Imagine o que seria descrever a primeira cena que são os narradores dizendo do trajeto do anel até ele ser resgatado por Bilbo?
(Modelo básico da introdução SENHOR DOS ANÉIS – A SOCIEDADE DO ANEL)

Narração por Galadriel
FADE OUT
GALADRIEL (V.O)
“BLABLABLALBLA”
FADE IN
PLANOS
Cenas # dos homens
FADE OUT
GALADRIEL (V.O)
“BLABLALBLABLA”
FADE IN
PLANOS
Cenas # dos anões
(…)
FADE OUT
FIM
Descrever como a atriz Cate Blanchet iria fazer as expressões da elfa, como iria falar. Não é trabalho do roteiro, é do ator. O roteiro fala – “Atriz você vai falar este SCRIPT” as cenas são compostas com o trabalho de dublagem e cenas. Já viu que existem descrições para cada cena?
Cena da introdução e cena dos anões, elfos, humanos e de Mordor. Para tirar a dúvida de que todos podem estar se perguntando que FADE IN, FADE OUT e PLANOS são essas aí no roteiro?
FADE IN ou OUT são transições de tela (CLAREIA A TELA / ESCUREÇA A TELA) e PLANOS é uma sequência de fotos onde podemos denotar contagem de história, que é descrito em outra parte do roteiro para gerar uma cena de movimento, ataque. Neste caso também temos a inclusão da idéia FLASBACK – já que a narração por GALADRIEL antecede os fatos do filme.
Aqui podemos ver vários elementos de um roteiro, mas também podemos ver que um livro adaptado para o filme é um caso natural. Seria até significativo transpor os 15 anos no filme como – “15 anos depois” – mas seria necessário desencadear uma cena de ‘Lembra deles?” mais uma cena que é irrelevante. Só uma cena para explicar o que aconteceu nestes últimos 15 anos. Já havíamos ouvido a narração da Galadriel dizendo desta história de muitos séculos, da perseguição de Gollum, deixando em segundo plano – do anel até Bilbo. E sua chegada até Frodo – seria conveniente a imposição de um período de tempo e esta cena de explicação do Bilbo até os tempos de seu aniversário, no filme.
Seria realista, seria. Cabível – não. Não em formato do DVD, mas seria FLASHBACK e demasiadas cenas para explicar o hiato. Seria cansativo. Muito – para o telespectador ia ser um inferno sem saída.

Crepúsculo/ Twilight – O processo de adaptação do roteiro não pode ser rudimentar e nem surrealista.
Imagine então adaptar filmes como o Crepúsculo que atende por um emaranhado de fatos onde é necessário intensa escrita emocional. Onde a maior parte das linhas, são percepções dos personagens. Até aqui, todos entendem o que é percepção de personagem?
No livro “Harry Potter e o Enigma do Príncipe” no capítulo 21 – pág. 361 – parágrafo 1ª.
“(…) Harry inspirou fundo e continuou calmamente, embora fervesse por dentro.”
O telespectador o vê ferver? O sentido abstrato de ferver não é visualizado. A expressão de raiva denotado pelo ator pode ser visto, no entanto a raiva pode ser expressada de ‘n’ formas. O roteiro não prevê como isso vai ser feito – trabalho este destinado pela atuação.
Nesta cena, descrever o que seria feito – até mesmo inspirar fundo (o fundo) seria demasiadamente cênico. Apenas HARRY respira. Entende-se por script o diálogo, entende-se por rúbrica (reação sugestionada) e entende-se por interpretação do texto o que o ator achou da reação da cena, cabe a ele respirar fundo e expressar calma aparente, no entanto demonstrar em sentido contrário do que demonstra, raiva – “um punho fechado”?
Dado estes que vimos neste tópico demonstra que a adaptação de um livro para roteiro sofre modificações cruciais. Em especial aos sentimentos descritos no livro, ás vezes ausente, igual ou mesmo superiores ao do livro. A atuação conta nestes casos, como algo pessoal. Muitos atores leem os livros para terem uma fidelidade – entretanto outros preferem criar uma nova imagem contextual.
É hora de revisar.
Para não perder a prática, neste item vimos a importância de adaptar o roteiro da fonte literária, e como isso pode vir a modificar o manuscrito e as razões pelos quais são realizadas estas alterações.
Como montar meu roteiro?

Por onde começar o meu roteiro?
Se você teve a paciência de jó e ler este artigo por inteiro, deixe-o de forma que não fosse tão longo. É tão irônico escrever isso, mas não tem outra forma que ser tão descritivo. Aliás, como havia dito – muitos autores insistentemente e ‘algures’ colegas da rede copiam o texto das ditas famosas – ‘simplicidade de regras’, e esquecem ou ignoram que a simplicidade acaba quando você aprende que sinal verde é para os carros passarem e você não. Mas sabemos que se o semáforo falhar, vem a regra comunitária – “Vocês passam 5 minutos, e os pedestres também.”
O roteiro de nada adianta sem uma prática. O Master Scenes sofre diversas definições, existem fontes que afirmam que é permitido uma descrição mais rica. Outros que é preciso ser uma descrição superficial e outros imitam ambos, dando exemplos contrários – produto de nossos colegas CTRL+C/CTRL+V.
Não tem mistério, não tem bicho de sete cabeças. Criar um roteiro é simples descrever ambiente, denotar ambiente, atores e objetos de cena. Descrever cena e diálogos e transições. Se você é o diretor também, então separe bem os papéis dentro da cuca. Roteirista ‘formata’ e diretor ‘projeta’. O que isso significa?
Que se no roteiro HARRY POTTER sobrevive como diretor – “Você vê orienta a atriz [Lilian Potter] falando com ator (Harry Potter) momentos antes do ator ENTRAR (Voldemort) e lançar o feitiço de Avada Kedavra. Como será feito a cena, que emoção demonstrar, que gestos.
Master Scenes – Animação – (2)

Parte II – Conhecendo os elementos do Master Scenes
Na segunda parte deste artigo vou passar a formatação, deixando de lado margem e posição, porque como eu falei – a cada mês que passa para ser mais dinâmico no progresso da coisa, isso não faz muita diferença se você esta preocupado em como a cena vai ser descrita. Pode montar em tabulação as regras de x cm para cima e y cm para baixo – caso seja interesse dos leitores, eu passo estes detalhes.
E vamos utilizar exemplos de livros, filmes e games para montarmos nosso roteiro. Até o próximo artigo.
Bibliografia referencial.