Terra à Deriva

Esta matéria e análise contém Spoilers.

Gosto de filmes estrangeiros e não faço cerimônias quando procuro temas que toquem em Monstros, Sobrenaturais e Fenômenos. Terra à Deriva é uma narrativa de 120 minutos de origem chinesa com fotografia e narrativa digna de um vencedor de óscar, onde o problema consiste no nosso sol. Em 300 anos, ele vai apagar, e suas ondas de choque devido a morte da estrela, vai destruir a terra. A solução? Inusitada.

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A história começa há 17 anos, ano da cronologia do filme, onde um pai e filho conversam sobre o planeta Júpiter. E destacamos que toda narrativa da Ásia é sempre moderada entre drama e o gênero em questão (Aventura, Ação, Ficção e etc), pois a características de seu filmes é sempre ‘muito explicada’. Então o que você não pegar com os diálogos, a narração vai preencher os vazios.

Encare como um grande Anime em formato Live-action. A solução adotada pelos países do mundo organizado pelo GTU, onde cada país montaram vários propulsores enormes em seus territórios para transformar a terra em uma gigantesca nave. Tira-la de órbita e do sistema solar, á procura de um outro sistema em que o sol não esteja moribundo.

O plano por si só é arriscado, além de passarem 17 anos no subterrâneo do planeta abaixo desses propulsores, onde o calor os protegeriam da gelada superfície por ausência do calor do sol, eles pretendem usar a força gravitacional do planeta Júpiter para saltar, ganhar velocidade, o problema é que um erro pode ocasionar uma sucção do gigante gasoso em relação á terra e matar todos no planeta.

Planeta Nave e a distopia Underworld.

A imaginação criativa de transformar a terra em uma nave no lugar de montar uma nave e transportar os seres humanos pelo espaço a procura de um planeta com um sol, demonstra uma outra possibilidade que ninguém havia pensando. Filmes como Pandorum, Passageiros – onde o primeiro a urgência exigia um novo planeta e o segundo era uma opção de colonização, cria a ideia de usar uma nave para sair da rocha espacial e ir a procura de outro lar ou colônia.

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Abaixo dos enormes propulsores também estão cidades subterrâneas onde cada país abriga seus habitantes para protege-los do frio pela ausência do sol. E um perigo, caso o reatores parem de funcionar ou se derretam, o magma ou destroços podem esmaga-los sem escapatória. O mundo subterrâneo, não é tão explorado na história, mas percebemos que há uma versão “Metro” (2033, Last Light e Exodus), não é tão sujo, mas lembra a combinação destes com Blade Runner.

E outras áreas que parecem a superfície como o uso de hologramas para simular o ambiente externo. Existe uma breve sutileza de acontecimentos, porque o objetivo é levar os personagens para fora do habitat, já que o problema vai se desenrolar na superfície do planeta.

Gladios e Moss.

Moss é um máquina que controla toda a Plataforma Espacial, uma nave com uma tripulação de quase 900 pessoas, carregando sementes, material genético e fetos, se assemelhando com uma Nave Ark (Arca) para repovoar outros planetas, que tem uma perfil muito similar, mas não louco, da Gladios de Portal. E até mesmo o formato de um para o outro é quase familiar.

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A luta pela vida começa quando todos os comandos e decisões são defendidas por um conselho formado pelo GTU e uma máquina que raciocina logicamente. Entre o desespero dos seres humanos presentes no planeta terra vagando pelo espaço, e que podem encontrar esperança além da Alfa Centauro ou o fim dentro de algum planeta ou estrela.

Batalha pela Vida dentro e fora do planeta.

As cenas de ações são intensas. Tanto dentro como fora da terra, em especial porque o grande Júpiter intercepta a trajetória da terra. E os cálculos se tornam falíveis diante do que pode a morte de todo o planeta e talvez da própria raça humana. Entre abalos sísmicos monstruosos ou uma nave comandada por uma Inteligência Artificial, temos um problema. Como fazer um propulsor ir de uma turbina para uma arma de laser gigantesca?

A Lá Luc Benson.

Os filmes do diretor francês Luc Benson são uma orientação para entender a narrativa, o mundo, a utopia científica e a ambientação. Quinto Elemento (1997) que levava o casal Leeloo (Mila Jovovich) e Korben Dallas (Bruce Willis), e Valerian e a Cidade dos Mil Planetas com o outro casal Laurine (Cara Delenvigne) e Valerian, tem uma familiaridade com os irmãos Liu.

E o mundo a sua volta, onde sabemos ter uma linguagem e origem própria, mostra apesar de tudo, uma lógica com o nosso mundo. Mas que está mais centrada em universos como Mass Effect e Halo do que para grau de parentesco cinematográfico, Luta de Titãs e Akira. O filme tem pés no chão, mas com um ar de “E se o futuro fosse assim…”

Universalidade presente.

Um ponto interessante é que a solução não partiu do povo chinês. Não apenas. Normalmente quando temos um filme produzido por um país, a solução é sempre dele. É claro que a narrativa se passa em predominância na China. O interessante é que temos uma comunhão humanitária. Onde países vizinhos a Ásia e do outro lado do Oceano, normalmente países aliados economicamente foram citados. E cada país fala sua língua em seu idioma.

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Não é um Americano, Russo, Francês falando no Chinês ou o Chineses falando em uma língua estrangeira. Cada país fala sua língua. Existindo inclusive mistura de origens em equipes de outros países.

E claro que a chave e ouro tinha que fechar para um lado. Embora a solução de salvar o planeta de ser destruído fosse da China no final das contas, Israel já tinha tentando a mesma situação horas antes. O que permite ver um esforço global e não uma hegemonia de respostas dadas por apenas um país. Essa relação podemos compreender quando vemos um filme de origem Americana.

Onde são sempre eles os que acham todas as soluções e o restantes dos países, sem reclamar, aceitam. A crítica aqui não é uma abordagem política destes países, mas a influência deles pelo mundo ‘contamina’ a narrativa. E é possível notar que em filmes Coreanos, onde a aliança é mais forte entre os EUA, é a defesa do ideal Americano em solo Sul Coreano é mais presente do que por exemplo, China e Rússia.

Avaliação.

A história é viciante, tem um desenrolar temático, sobre família e lar. E o contexto é utilizar uma crise planetária onde esse conceito de família e casa não é apenas pertencente a raça ou civilização. A luta pela sobrevivência exige que cada país deixe de lado sua nacionalidade por alguns segundos a procura de um raio de esperança.

A dramaticidade comum de filmes asiáticos não é uma item muito presente, apesar de tudo. Filmes como Pandora ou séries Japoneses, Coreanos e Chineses são capazes de sintetizar o que é um drama melodramático. Embora dependendo da situação o drama é justificável, haviam momentos em que ele pareciam transbordar o limite e até mesmo descontextualizado.

Em a Terra à Deriva não há um exagero, e há um pé de igualdade com filmes americanos onde existe uma diretriz chamada “Ação e Aventura” e outras subcategorias de eventos chamados “Drama na medida certa” e “Solução Universalista”, este último, onde não existe uma ponderação que parte deve surgir a solução. Fazendo com o filme não seja um selo de qualidade, por exemplo, Made in China.

Dou nota 85.0.