O funcionalismo da adaptação de Livros para Filmes (2)

Parte 1 – clique aqui para ler.

Resumo: Adaptação muda o como e não o quê. Alteração muda o quê e consequentemente o como. Para inteirar-se sobre do que falaremos, a leitura da parte 1 é essencial. Vamos analisar livro e filme — O Iluminado. Vamos lá?

Primeiro que devemos realmente afirmar, o filme e o livro são duas histórias distintas. Acredito que alguns irão concordar e outros discordar. Por isso o entendimento da parte 1 se faz bastante necessário, apesar do resumo, não creio que terão base para compreender de forma resoluta, quando digo que o filme de Stanley Kubrick não é a mesma obra de Stephen King.

Segundo, o protagonismo do filme fita Jack Torrance, já no livro foca em Danny. Aqui conseguimos entender quando falamos de “importância” do título (The Shining, O iluminado). Acaba que o filme também foca demasiadamente no Hotel, Danny e Wendy são meras partes figurantes do enredo, e Dick Halloran premia-se mais como aquele sujeito que irá apontar para nós, que o menino, tem poderes. Mas no filme isso é tão sublinhar — Halloran morre (não é novidade).

Terceiro, no livro Halloran não morre. Foca em Danny, Wendy e Jack (como núcleo familiar). Foca na vida anterior de Jack antes dele chutar o balde e o colocar neste pesadelo. Na vida da Wendy e sua força dedicada a manter uma família unida apesar de todo o desgaste, sua relação com sua mãe tóxica e Danny e sua relação estreita com o amigo imaginário Tony. Um detalhe que é bastante precioso, tudo o que eu acabo de descrever, acontece essencialmente antes deles irem para o Hotel.

Quarto, enquanto o filme foca no surto de Jack sem dar maiores explicações, associa-se esquisitices do Hotel, que podem beirar a nossa interpretação da loucura de Jack ou de fato o Hotel é mal assombrado — devido as ocorrências com Danny e Halloran podemos considerar que talvez o sobrenatural não seja uma parte infundada, mas mesmo assim, dado o histórico de violência de Jack, de um ambiente familiar um pouco desequilibrado, o garoto poderia ser uma criança traumatizada que tem um amigo imaginário e que imagina outras coisas mais.

O livro foca em Danny e seus poderes, sua relação com este termo Iluminado, Halloran. Wendy tem muita mais presença, não é apenas uma figurante. Jack é construído de um bem sucedido profissional de literatura a um beberrão decadente, revelado a carga emocional de um casamento em ruínas, uma família disfuncional, até que a oportunidade do Hotel se forma, e Jack o vê como uma chance de integrar á todos.

A distância do filme e livro é tão brutal, que podemos dizer que não é adaptação, e sim alteração completa do enredo, do foco, do conceito dos personagens, do background, da consequência. Mesmo que no livro Jack não vai para em uma foto de 1921, o Hotel acaba em chamas. O Filme vende a ideia de um marido e pai violento que cai na graças de um hotel assombrado.

O Livro em sua contrapartida vende uma ideia oposta, que é praticamente mostrando que Jack não é precisamente um marido idiota e nem um pai negligente, a relação pai e filho é bem mais evidente no livro (por isso que a transformação dele na escrita é bem mais trágica).

Stephen King chegou a criticar Kubric em sua ‘adaptação’, ele mesmo escreveu um roteiro que foi totalmente descartado pelo diretor. Há alguns que o admiram por sua destreza aos detalhes expressionistas que adotava em suas produções. Particularmente o acho prolixo e desnecessário. 2001 uma odisséia é um filme com proposta genial, execução odiosa. Se fosse feito por outro diretor, talvez me agradasse.

Sinto que Kubric é como aqueles artistas, pintores que tiram das telas uma obra, mas por obsessão a estraga com rabiscos que parecem uma criança de cinco fazendo círculos até a tela furar. Aqueles que gostam dele terão suas devidas razões. Não precisam usar os comentários para contradizer, o meu gosto em relação as obras dele não será revertido.

A parte disso, a história não tem qualquer relação com o livro, usa elementos do livro, como o hotel, os elementos de assombração. Mas a parte do iluminado mesmo fica quase 100% de fora, a tensão da loucura que o Hotel perpetra é quase imediata, Wendy parece uma estepe e Jack é o principal. Ao nosso comparativo, o livro em 80 páginas inicias descreve cada personagem, alinha-os com seus objetivos, e garantem que a gente possa compreender onde eles estão em suas relações como pai, mãe e filho.

O que me impressionou no livro é que REDRUM é citado muito antes deles irem para o Hotel. O quarto 217, as assombrações do Hotel. E existe um elo de Danny com Jack, que o filme sequer cita ou mesmo trabalha. Como Frank Darabont – clique aqui para ler sobre as diferenças do livro e filme — ainda que tenhamos uma alteração mínima no final — a mudança foi motivada por um combustível tão fútil, que foi segundo o diretor – “Chocar”.

Kubrick não esconde que mudou a trama apenas porque queria reinterpretar a obra de Stephen King. No lugar do iluminado, fez um “Assassino do Hotel Overlook”. Um pitaco de outro universo, Until Dawn oriundo de game quando adaptado para filme, não ficou horrível, mas a história da Supermassive games era melhor. Transformado a lenda dos Crees (Wendigos) e algo muito Sexta-feira 13. (Não sei, me parece que os diretores tem uma perfeita história e resolvem jogar tudo fora).

Voltando, o livro Iluminado ao que consta, nunca foi adaptado. Vamos esperar por uma oportunidade. Apesar da série dos anos 90 e conseguinte o Dr. Sono que se trata de Danny adulto (preciso rever), o precursor ainda é ausente a realidade. Até porque quem gosta do filme provavelmente não se sentiria ofendido se lesse o livro. Serão duas obras para entreter.

E antes que comentem – “Adaptação não significa fidelidade”, leiam a parte 1. A compreensão desse termo se faz tão necessário, porque o que se repete por clareza, é que ele é equivocadamente entendido como ‘alteração’. E entendam são dois termos distintos.

O funcionalismo da adaptação de Livros para Filmes (1)

BREVE INTRODUÇÃO.

Por definição desapropriada adaptação é equivocadamente entendida como alteração da obra — por assim dizer — alteração do contexto. Quando por sua definição denotativa, significa apoiar-se no contexto original mudando o como e não o quê. Talvez a maioria de vocês leitores(as) que bater o olho desta e julguem ser a mesma coisa.

Mora aqui o perigo maior de adaptações de livros. Decerto não vou defender que livro deveria ser colocado totalmente na tela, por vezes, certas tramas, cenas ou efeitos funcionam apenas nas páginas ou entre, nas telas. Neste artigo vou passar por algumas obras que foram do livro, e sofreram “alteração” e não “adaptação”. Vamos lá?

NIVELAMENTO DE LEITURA DO BRASILEIRO.

Por crítica óbvia — a leitura de livros tem sido em demasia banalizado. E ainda que pareça que estamos lendo mais, dado as bienais sempre cheias, canais a rodo falando de resenhas, o Brasil possui uma média por ano de 3 leituras. Entenda que esse número é tão pequeno, que se comparamos aos países da Europa, temos 14 leituras por ano a menos . Compreendem? No Brasil por média, um brasileiro lê 3 livros por ano enquanto na Europa são 17 livros.

Essa média ela não corresponde obviamente o todo, mas ela é abrangência. Você pode ler 12 livros ao ano, mas em média, as pessoas mal leem algum livro em um período de 6 meses. A maioria das leituras se concentram em livros de aperfeiçoamento profissional (além de autoajuda) e a concentração dos livros que se tem mais interesse possui uma linguagem basicamente acessível — o texto não é rebuscado (vou chegar lá para comparar).

E quando as pessoas leem, o fazem por tendência e não por iniciativa. Vamos ao próximo ponto. A leitura básica x texto rebuscado é aquele que mais diferencia o leitor médio do leitor casual. A pessoa que lê Crepúsculo, o fez em 2008 ou antes. Posterior, não se tem notícia. A não ser que a alguma continuação da saga se faça presente. O mesmo sobre Senhor dos Anéis, que por aqui, foi há 24 anos (ou antes).

Texto rebuscado exige um vocabulário mais do que o básico. Normalmente essa leitura concebe um ditado gramatical também diferente do usual. Até podemos usar algumas palavras no dia-a-dia, mas será bem nichado. A maioria que lê, lê obras de linguagem acessível com passagens simples de dinâmica e até mesmo ‘pouca’ descrição. Complexidade de narrativa x complexidade do uso da linguagem.

Texto simples:

  • Harry Potter
  • Jogos Vorazes
  • Guia do Mochileiro das Galáxias
  • O Manual de assassinato para Boas Garotas
  • Maze Runner
  • Percy Jackson
  • Five Nights

Texto médio:

  • Desventuras em Série
  • Agatha Christie
  • Stephen King

Texto médio-rebuscado:

  • Edgar Allan Poe
  • Lovecraft
  • Sir Conan Doyle
  • Julio Verne
  • Mary Shelley
  • William Shakespeare
  • Marcel Proust
  • Charles Baudelaire
  • Goethe
  • Victor Hugo
  • Homero

A maioria se mantém no texto simples. Por isso naturalmente a leitura performática dura alguns dias no lugar de semanas. A leitura de 300 páginas de um texto simples equivalem a 90 de um texto médio e 30 de um texto rebuscado. A isso se determina o nível de exigência de compreensão e inúmeras interpretações que podem ser realizadas em poucas palavras. A sua pergunta é, por que estamos batendo na tecla do hábito de leitura do brasileiro?

Porque as adaptações para filmes ou séries, sofre também do calcanhar mental desse hábito. Até porque leituras básicas consomem menos ‘baterias’ de esforço do que você precisa pensar para entender. Harry Potter não faz rodeios descritivos, não perde tempo em poesia, não impacta com filosofia e tampouco o faz pegar um dicionário para entender aquela palavra. Não confundam filosofia do cotidiano e tampouco da poesia indireta.

Filosofia de Harry Potter envolve a crença no místico e a poesia sobre as lições que o bruxo pode nos ensinar. Não estou me referindo à isso. E sim a filosofia por exemplo, Grega, ou filosofia de estado, mesmo alegoria da caverna, ou República, conceito da Arte da Guerra e por aí vai. Você pode fazer um esforço para que a obra de Rownling se encaixe ali. Que ainda seja válido, os livros de Harry Potter de forma direta não bate em nenhuma dessas questões.

Para tanto, quando o filme foi adaptado, algumas partes do livro não foram para versão final. Por exemplo, Rony Weasley no livro é extremamente genioso, no filme parece um bocó. Parte de sua personalidade foi transferida para Hermione. No Livro Pirraça existe, no filme não (não faria muito sentido neste caso). A adaptação quanto ao personagem Ron, não é uma adaptação. É uma remoção deliberada de suas características.

Por assim dizer, uma mudança radical do seu personagem. Que no livro é um bruxo ardiloso e no filme ele parece um figurante. Podemos notar que essa é uma alteração clara. Adaptação seria por si só, talvez mudar a cor do seu cabelo, mas essa é uma característica do personagem, correto? Tão ínfimo, mas sinaliza uma parte do personagem. O que poderíamos ‘mudar’, sem alterar?

Pirraça não faz muito no livro, o que ele faz, pode ser substituído facilmente, porque na prática ele não é um personagem simbolicamente importante. Mas Harry Potter não pode não existir. Nem Hermione, pode? Talvez, mas não teria essa conexão do famoso trio. E nem digo para o filme. Toda narrativa se baseia em fundação. O herói e os amigos. Normalmente divididos em Ying e Yang (nada de mau ou bem, na realidade, energias opostas mas não anulantes ou conflitantes, e sim, complementares).

No filme Ron é tão desnecessário, que ele poderia ser removido da saga. Quando você lê o livro, nota que Ron e Hermione possuem papéis devidamente posicionados e essenciais. Quem leu o Ron e depois viu o filme, deve ter diferenciado os personagens.

Alguém lembra da menção de Gandalf em Senhor dos Anéis, o quanto que ele demorou para pesquisar o assunto sobre o anel? No filme, coisa de horas ou dias. No livro, uns 17 anos. Talvez pelo impacto óbvio da palavra épico. A grande diferença é que o anel, Sauron, Mordor já era tão longe que virou lenda. No filme dá entender que era iminente, todo sabia, havia livros para todos lados e não é verdade. O Livro pontua que Sauron na prática, teria uma enorme vantagem das pessoas teriam se esquecido do que ele foi e era, por causa de um anel, ele meio que estava … presente?

Sem ninguém saber? E por 17 anos, é claro, volta á tona tudo certo? O Filme pode não revelar essa distância temporal, nos impede de entender que em parte, Sauron e cia, eram uma lenda da lenda. De tão esquecido que era. Na próxima parte, vou trazer Iluminado e você vão pode entender o que é a alteração e adaptação a ponto de visualizar, uma mudança 100% do filme e do livro. Até a próxima.

Resenha Poltergeist (Livro) – Abandonado

Acredito que mesmo com o declínio dessa leitura — é oportuno afirmar que ele é extremamente desconexo — mas os motivos são menos óbvios, essa resenha não terá longevidade, mas será de valia para quem está pesquisando por ele e quer saber se vale a pena. Vamos lá?

Lançado pela Darkside — este livro não é a origem do filme — como já vi em alguns com essa dúvida. O Filme não teve origem literária, foi criado para o cinema e apenas. Este é uma produção do autor James Kahn, que converte roteiros de filmes em narrativas (ou pelo menos tenta), publicado em 2023. O livro engloba Poltergeist 1 e 2, e para efeitos de informação, as versões dos anos 1980.

Apesar de que muitos resenham ser fiel ao filme, ele é uma novelização que “remove” muitas características, altera alguns personagens, dinâmicas e até mesmo ‘cenas’. Há elementos obviamente presentes do filme. À este ponto eu não sou contra, mas a narrativa (o romance) é um show de horrores em uso de expressões, redundâncias e até mesmos incoerências. Passagens e personagens que sofrem “mutação” de espaço e tempo.

Como eu disse, declinei da leitura no primeiro capítulo. Na primeira página senti que estava lendo um belo romance (ficção), mas na segunda página já senti um desconforto — em usos de expressões conhecidas como “preenchimento de espaço” que não significam nada.

Há uma mistura de leitura leve com alguns termos rebuscados (que não atrapalham o entendimento em si) mas cria uma quebra de dinâmica (textos leves consistem em menos complexidade é mais específico a contar os fatos) — assim que a alternância de complexidade implica em subir uma ladeira e de repente ter que voar (textos densos consistem em descrição massiva) — este último contrasta com que eu afirmei sobre o entendimento, porque você não mistura texto (fácil) com (difícil).

Mas o livro não consegue ter um equilíbrio, no entanto não foi por isso que declinei. Foi porque em poucas páginas haviam uma salada de fatos, que eu nem sei se o Poltergeist é o grande vilão. Há muitas passagens desnecessárias, sem sentido, até mesmos confusas e algumas bizarras. Como por exemplo – “Enquanto Robbie observa Dana, sua irmã mais velha, ele a vê conversando com suas amigas enquanto folheiam uma revista para adolescentes e nota que elas sussurram e fazem gestos que não deveriam fazer.”

Sabe qual é o problema dessa frase? Vários. Primeiro que Dana não tem uma localização, se está dentro ou fora da casa. Robbie quando fala, aparentemente está em cima da árvore de Carvalho (mas ele é teletransportado para dentro e fora, cedo e tarde) no mesmo dia. Não se sabe se ele está observando ela pela janela acima da árvore, ou dentro do quarto ou mesmo ela está no quintal.

Um outro problema recorrente é que há troca de espaços físicos entre os personagens, mas o autor, não parece ter habilidade de explicitar a transição entre esses lugares (e mesmos tempos) em que os eventos ocorrem. Dando a entender que tudo está acontecendo ao mesmo tempo.

Outro ponto, como uma criança de 7 anos sabe que gestos e falas são inadequados? E mais, o autor não indica o que elas estão falando de tão absurdo — a supor que estejam de fato comentando entre si ou debatendo o que leem na revista — até porque a natureza da revista nem sequer é revelada.

Ainda no capítulo, tem uma parte que Dana abre sua camisa para que a pequena Carol Anne possa ouvir seus batimentos, em um faz de conta de que ela faz enquanto brinca de médico. (Essa cena não existe no filme, a personagem da Dana mal contracena com a família no longa).

A cena revela que ela praticamente abre a camisa. É uma passagem no mínimo bizarra. E detalhe, que quando a irmã dela surge no quarto, a garota xinga ela e manda sair. Mas quase sem nenhuma explicação, cede a brincadeira da menina. Mas não tem sequer explicação o porquê ela optou participar se a primeira coisa que ela fez ao avistar Carol Anne foi de enxotá-la.

Então as aparentes adições a narrativa, não sendo originais do filme, surtiram um efeito de bizarrice narrativa. E outro ponto é que as partes que existem também sofreram e eu senti que estava lendo um conto inacabado com ideias jogadas. É difícil compreender que a Darksider publicasse um livro tão mal feito.

Como no Canal da Junca Games, eu dou a mesma nota aqui, -5.

Tripulação de Esqueleto (Stephen King, Resenha)

Os 22 contos de começo de carreira.

Stephen King é um dos autores em que me inspiro escrever. Sempre gostei do conceito do personagem comum em situações absurdas. Mas nunca foi adepto de histórias que não tivesse final, aberto talvez, mas sem final nunca foi o meu forte. Não sou assertivo em doutrina total da escrita do americano que fez fama com contos curtos nos 1970-1980. Gosto também da escrita de Lovecraft, fundamentava-se em escrever, praticamente uma notícia jornalística que cabia nas entrelinhas, o fantástico — mas padecia do mal de ser prolixo, redundante e altamente repetitivo. Mas gosto também da escrita mais simples. Vamos falar hoje do livro “Tripulação de Esqueleto”. Vamos lá?

É basicamente uma coletânea de 22 contos de 1968 à 1985. Inclui como primeira história — Nevoeiro — destaco firmemente que prefiro conto do que o filme. Excluo a possibilidade de um dia mudar de ideia. Não apenas pelo final, que na adaptação é uma tragédia (e acrescento tragédia mais ainda pela justificativa do diretor Frank Darabont), prefiro o conto por conseguir passar o terror real, muito mais que aquela xepa fúnebre que se formou no mercado e sua líder tacanha Carmody, mas pelo fato da origem do nevoeiro e de onde viera.

Descobri recentemente que Half-life da Valve fora inspirado em Nevoeiro. Se for um boato a qual acreditei — pois não li em uma biografia ou fonte confiável — pelo menos foi um fator que influenciou o game (1999). A série que foi adaptada, da qual em cinco minutos larguei-a, não demoraria a ser cancelada. Transformar o nevoeiro em coadjuvante legando a ele o papel de ‘enlouquecer’ e não de ser uma consequência vinda de uma outra dimensão cheio de monstros, foi o que fez série ser cancelada na primeira temporada.

Mas os outros contos são todos aqueles que passeiam por temas como: Vingança, heranças, loucura, fantasia, psicopatia, bruxaria, tecnologia, brinquedos assassinos e o inacreditável. Levei talvez um bom tempo para associar que a narrativa de King, tenha o pé completamente posto, em séries como Amazing Stories (Histórias Maravilhosas, 1985), Contos da Cripta (1980,1990), Além da Imaginação (1940, 2005), Quinta Dimensão (1990).

Todas histórias que intencionam serem comuns casos, quando você olha, tem algo estranho acontecendo. Como é o caso do conto “Macaco”. Que se trata de um brinquedo de macaco com dois pratos (címbalos). Toda vez que ele bate o prato, alguém morre. E uma voz ecoa na cabeça de quem irá presenciar o fato. Há Tigres aqui é aquele meio que fala sobre “Ou está acontecendo ou está tudo em sua cabeça”, o valentão tem um final horrível nas mãos do Tigre.

Excursão foi o conto que mais me impressionou. Teve uma adaptação, encontrei-a, e achei tão cafona que nem considera o peso do final. Excursão é o nome dado para teletransporte. E uma família vai usá-lo para viajar da Terra para Marte. Somente o patriarca viajou, os demais nervosos demais para sua primeira viagem. Mas então ele começa contando como a excursão foi criada. E tudo consiste em viajar, dormindo. Nada dura mais que alguns segundos. No entanto, o pai instigado pela filha que tanto quer saber o que aconteceram com os ratos durantes os primeiros experimentos, vê na pele quando atingem o seu destino, um filho de 10 com centenas de alhos e unhas do tamanho do braço gritando – “É muito, muito, muito tempo.”

Não entendeu nada? Excursão como eu disse é o termo usado para teletransporte. E para viajar, os cientistas descobriram que é preciso fazer o passageiro ir dormindo. O pai não conta, mas é que revela-se que entre o ponto de origem e de destino, existe um caminho. Este caminho, quando estamos despertos, é quase eterno. Nossa consciência vivencia todos os milhões de anos que há. Então, o filho para descobrir o que acontece, segura a respiração, não é dopado. E fica acordado. Ele então surge com um corpo de um velho com milhões de anos (e louco).

Outra história que me fez pensar em um filme feito pelo diretor indiano, M. Night Shyamalan que conta a visita dos netos aos seus avós, em a Visita. Mas a história que eu li, particularmente é melhor. Porque no filme, são dois velhos (que são confundidos com os avós das crianças) e são dois loucos. No livro, o conto se chama Vovó. E acontece que ela não é uma mulher normal. Já condenada pela idade, presa a uma cama na residência de sua filha, com cuidados médicos, quase cega. Tem certos acessos. Até ai, poderíamos dizer que apenas é coisa da idade.

Vai indo para trás, contando em flashbacks, que a mulher não tinha sorte em ter filhos, todos morriam. Frustrada ela começou a consultar-se com livros misteriosos. O conto não menciona do que se trata, mas ela milagrosamente começa a ter filhos normalmente. Mas de uma forma trágica, pessoas ligadas à ela, morrem. Sempre de uma certa forma, esses acessos ocorriam. E os acessos não eram normais, a matriarca mais velha simplesmente falava palavras estranhas sem sentido. E a pessoa em contato, morria.

O neto mais novo, ficou em casa, para que sua mãe pudesse visitar o seu irmão mais velho que se acidentara em um jogo na escola. E aquela foi a primeira vez, que o garoto ficou sozinho com ela. Ele já morria de medo, porque avó dele, sempre queria abraça-lo falando de forma assustadora, estendendo os braços e repetidamente querendo que ele se aproximasse. Varando a tarde pela noite, porque sua mãe saiu às 15h, durante o dia a mulher ficou desmaiada de sono. E o garoto com medo de cruzar o corredor e passar na porta da mulher.

Ele chegou a constar que ela estava inclusive morta, porque não respirava. Marcou o pulso, colocou a palma na frente do nariz e até um espelho para conferir a transpiração, nada. Estava morta. Mas ele percebeu momentos depois que não estava morta, estava viva e querendo que ele a abraçasse. A tia do garoto chegou até ligar para ele — no momento em que a mulher simplesmente perseguia o guri — importante citá-la, porque essa tia estava morta no dia seguinte há quilômetros da casa, apenas por telefone o contato.

O que posso dizer é que aqueles livros, as mortes, e as citações estavam associadas ao uso de bruxaria para que ela conseguisse ter filhos. Mas isso a condenou. No final, ela morreu…na realidade passou o para o garoto. Fiquei curioso no final para saber que livros eram aqueles. Tem por estes pontos, que ser vago na escrita muitas vezes é bom, mas eu sempre dou um jeito de dar sentido, nem que fosse para fazer um epílogo e mostrar que esses livros vieram de algum porão macabro da cidade. Por tudo, a história é muita boa.

O homem que não apertava as mãos, se tratava de uma maldição. Um funcionário foi o causador de uma tragédia na Índia, e foi marcado para sempre, toda vez que alguém tocava em sua mão, morria. Posso inteiramente contar cada um dos 22 contos, ficará para uma oportunidade futura no canal da Junca Games, com ilustrações sobre do que se trata. Abaixo, ressalto a escrita.

Características da escrita.

Começar por Stephen King é um desafio para quem está acostumado a ler livros em que a narrativa é direta, sem gastar espaço para descrições. Não sou averso a escritas diferentes em contextualização a qual mais gosto, que seria (o ponto de ver uma paisagem apenas por uma descrição absurda), mas prefiro na maior parte do tempo. Lovecraft é um Viking em matéria de ser prolixo. Viking por honrar a luta, Lovecraft honra o tratado literário. Não sei qual razão oficial não o fez famoso, mas tenho minha suspeita que sua forma de escrever cansativa (até para os padrões da época) tenham contribuído.

Por fora, eu li diversos contos do autor do começo do século 20 e não desgosto. Apenas que acha desnecessário parte dessa mania de reescrever algo mil vezes. Stephen King faz algo parecido, mas usa da metonímia, após fazer uso do perfil enciclopédico. Melhor, porque ninguém aguentaria ele descrever cada personagem do Clube dos Otários, e a cada passagem reproduzir o mini currículo toda vez que um deles surgisse na cena. IT já compensa em 1099 páginas tudo o que poderia (e digo isso, porque diferente do autor de Necronomicon), King realmente preenche as páginas com história e não redundância.

A escrita é menos simples, mais mediana e complexa. Mediana não me refiro a coloquial significado “medíocre” (significa na média em denotação oficial), quer dizer se eu falar algo medíocre em pé literário, seria algo até muito bem apessoado. Mas para nós no dia-a-dia, significa algo desprezível. Portanto que o uso de mediana(o) aqui é que exige um domínio considerável de vocabulário. Há estruturas narrativas que exigem percepção de mudança espacial e temporal (não é explícito em muitos casos).

Você está lendo uma passagem no tempo, em alguns momentos o autor passa para o passado e volta para o presente. Mas sem dizer – “1995, 1970” para situar. Simplesmente descreve algo que poderia resultar em uma transição de tela, se fosse no cinema, sem mencionar a data para apenas dinamizar o contexto. E isso se dá quando se quer passar de um local para o outro. Muitos casos, o autor coloca o personagem na ponta do mastro, quando há alguns minutos ele estava ainda no começo da rua.

Não, não é confusão. Muito da descrição emocional da cena são essas transições de lugar e tempo. E isso implica em uma atenção especial em figuras de linguagens. Que S. King usa bastante. E não são de maneira alguma simples, para quem está se acostumando a ler. Por outro lado, sou adepto desse tipo de escrita. Tanto que até sinto em arriscar dizer, que se você lê 90 páginas desse tipo de intensidade, para um texto mais simples, seria o equivalente a ler pelo mesmo período de tempo 200 páginas.

E nunca é proporcional. A depender da literatura que temos em mãos, textos mais antigos, que carregam-se em alegorias, floreios narrativos, descrições aprofundadas, esse ritmo de leitura pode ser mais ainda. Stephen King não seria para muitos, um escritor clássico. Talvez contemporâneo (mais acertado), mas se pegarmos uma autora como por exemplo Agatha Christie, que de muito antes, a escrita não é tão pesada (exigência). Por outro lado, um texto de Edgar Allan Poe ou Sir Conan Doyle, ou William Shakespeare (e inclua nisso qualquer texto anterior inclusive), não estamos falando de 90 páginas para 200 páginas.

E sim de (…) para 1000 páginas. Podemos pegar por exemplo Harry Potter. Compare. O conto do nevoeiro tem 204 páginas. A leitura é tranquila, mas pode engasgar alguns. A leitura direta desse conto é equivalente a ler sem perder o fio da meada e memorização boa, de 2 livros em 2 semanas ou um pouco menos que isso. Exagero? Vão por mim, não é exagero.

Curiosidade sabia que o IT foi citado dois anos antes do livro?

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