BREVE INTRODUÇÃO.
Por definição desapropriada adaptação é equivocadamente entendida como alteração da obra — por assim dizer — alteração do contexto. Quando por sua definição denotativa, significa apoiar-se no contexto original mudando o como e não o quê. Talvez a maioria de vocês leitores(as) que bater o olho desta e julguem ser a mesma coisa.
Mora aqui o perigo maior de adaptações de livros. Decerto não vou defender que livro deveria ser colocado totalmente na tela, por vezes, certas tramas, cenas ou efeitos funcionam apenas nas páginas ou entre, nas telas. Neste artigo vou passar por algumas obras que foram do livro, e sofreram “alteração” e não “adaptação”. Vamos lá?
NIVELAMENTO DE LEITURA DO BRASILEIRO.
Por crítica óbvia — a leitura de livros tem sido em demasia banalizado. E ainda que pareça que estamos lendo mais, dado as bienais sempre cheias, canais a rodo falando de resenhas, o Brasil possui uma média por ano de 3 leituras. Entenda que esse número é tão pequeno, que se comparamos aos países da Europa, temos 14 leituras por ano a menos . Compreendem? No Brasil por média, um brasileiro lê 3 livros por ano enquanto na Europa são 17 livros.
Essa média ela não corresponde obviamente o todo, mas ela é abrangência. Você pode ler 12 livros ao ano, mas em média, as pessoas mal leem algum livro em um período de 6 meses. A maioria das leituras se concentram em livros de aperfeiçoamento profissional (além de autoajuda) e a concentração dos livros que se tem mais interesse possui uma linguagem basicamente acessível — o texto não é rebuscado (vou chegar lá para comparar).
E quando as pessoas leem, o fazem por tendência e não por iniciativa. Vamos ao próximo ponto. A leitura básica x texto rebuscado é aquele que mais diferencia o leitor médio do leitor casual. A pessoa que lê Crepúsculo, o fez em 2008 ou antes. Posterior, não se tem notícia. A não ser que a alguma continuação da saga se faça presente. O mesmo sobre Senhor dos Anéis, que por aqui, foi há 24 anos (ou antes).
Texto rebuscado exige um vocabulário mais do que o básico. Normalmente essa leitura concebe um ditado gramatical também diferente do usual. Até podemos usar algumas palavras no dia-a-dia, mas será bem nichado. A maioria que lê, lê obras de linguagem acessível com passagens simples de dinâmica e até mesmo ‘pouca’ descrição. Complexidade de narrativa x complexidade do uso da linguagem.
Texto simples:
- Harry Potter
- Jogos Vorazes
- Guia do Mochileiro das Galáxias
- O Manual de assassinato para Boas Garotas
- Maze Runner
- Percy Jackson
- Five Nights
Texto médio:
- Desventuras em Série
- Agatha Christie
- Stephen King
Texto médio-rebuscado:
- Edgar Allan Poe
- Lovecraft
- Sir Conan Doyle
- Julio Verne
- Mary Shelley
- William Shakespeare
- Marcel Proust
- Charles Baudelaire
- Goethe
- Victor Hugo
- Homero
A maioria se mantém no texto simples. Por isso naturalmente a leitura performática dura alguns dias no lugar de semanas. A leitura de 300 páginas de um texto simples equivalem a 90 de um texto médio e 30 de um texto rebuscado. A isso se determina o nível de exigência de compreensão e inúmeras interpretações que podem ser realizadas em poucas palavras. A sua pergunta é, por que estamos batendo na tecla do hábito de leitura do brasileiro?
Porque as adaptações para filmes ou séries, sofre também do calcanhar mental desse hábito. Até porque leituras básicas consomem menos ‘baterias’ de esforço do que você precisa pensar para entender. Harry Potter não faz rodeios descritivos, não perde tempo em poesia, não impacta com filosofia e tampouco o faz pegar um dicionário para entender aquela palavra. Não confundam filosofia do cotidiano e tampouco da poesia indireta.
Filosofia de Harry Potter envolve a crença no místico e a poesia sobre as lições que o bruxo pode nos ensinar. Não estou me referindo à isso. E sim a filosofia por exemplo, Grega, ou filosofia de estado, mesmo alegoria da caverna, ou República, conceito da Arte da Guerra e por aí vai. Você pode fazer um esforço para que a obra de Rownling se encaixe ali. Que ainda seja válido, os livros de Harry Potter de forma direta não bate em nenhuma dessas questões.
Para tanto, quando o filme foi adaptado, algumas partes do livro não foram para versão final. Por exemplo, Rony Weasley no livro é extremamente genioso, no filme parece um bocó. Parte de sua personalidade foi transferida para Hermione. No Livro Pirraça existe, no filme não (não faria muito sentido neste caso). A adaptação quanto ao personagem Ron, não é uma adaptação. É uma remoção deliberada de suas características.
Por assim dizer, uma mudança radical do seu personagem. Que no livro é um bruxo ardiloso e no filme ele parece um figurante. Podemos notar que essa é uma alteração clara. Adaptação seria por si só, talvez mudar a cor do seu cabelo, mas essa é uma característica do personagem, correto? Tão ínfimo, mas sinaliza uma parte do personagem. O que poderíamos ‘mudar’, sem alterar?
Pirraça não faz muito no livro, o que ele faz, pode ser substituído facilmente, porque na prática ele não é um personagem simbolicamente importante. Mas Harry Potter não pode não existir. Nem Hermione, pode? Talvez, mas não teria essa conexão do famoso trio. E nem digo para o filme. Toda narrativa se baseia em fundação. O herói e os amigos. Normalmente divididos em Ying e Yang (nada de mau ou bem, na realidade, energias opostas mas não anulantes ou conflitantes, e sim, complementares).
No filme Ron é tão desnecessário, que ele poderia ser removido da saga. Quando você lê o livro, nota que Ron e Hermione possuem papéis devidamente posicionados e essenciais. Quem leu o Ron e depois viu o filme, deve ter diferenciado os personagens.
Alguém lembra da menção de Gandalf em Senhor dos Anéis, o quanto que ele demorou para pesquisar o assunto sobre o anel? No filme, coisa de horas ou dias. No livro, uns 17 anos. Talvez pelo impacto óbvio da palavra épico. A grande diferença é que o anel, Sauron, Mordor já era tão longe que virou lenda. No filme dá entender que era iminente, todo sabia, havia livros para todos lados e não é verdade. O Livro pontua que Sauron na prática, teria uma enorme vantagem das pessoas teriam se esquecido do que ele foi e era, por causa de um anel, ele meio que estava … presente?
Sem ninguém saber? E por 17 anos, é claro, volta á tona tudo certo? O Filme pode não revelar essa distância temporal, nos impede de entender que em parte, Sauron e cia, eram uma lenda da lenda. De tão esquecido que era. Na próxima parte, vou trazer Iluminado e você vão pode entender o que é a alteração e adaptação a ponto de visualizar, uma mudança 100% do filme e do livro. Até a próxima.