Tripulação de Esqueleto (Stephen King, Resenha)

Os 22 contos de começo de carreira.

Stephen King é um dos autores em que me inspiro escrever. Sempre gostei do conceito do personagem comum em situações absurdas. Mas nunca foi adepto de histórias que não tivesse final, aberto talvez, mas sem final nunca foi o meu forte. Não sou assertivo em doutrina total da escrita do americano que fez fama com contos curtos nos 1970-1980. Gosto também da escrita de Lovecraft, fundamentava-se em escrever, praticamente uma notícia jornalística que cabia nas entrelinhas, o fantástico — mas padecia do mal de ser prolixo, redundante e altamente repetitivo. Mas gosto também da escrita mais simples. Vamos falar hoje do livro “Tripulação de Esqueleto”. Vamos lá?

É basicamente uma coletânea de 22 contos de 1968 à 1985. Inclui como primeira história — Nevoeiro — destaco firmemente que prefiro conto do que o filme. Excluo a possibilidade de um dia mudar de ideia. Não apenas pelo final, que na adaptação é uma tragédia (e acrescento tragédia mais ainda pela justificativa do diretor Frank Darabont), prefiro o conto por conseguir passar o terror real, muito mais que aquela xepa fúnebre que se formou no mercado e sua líder tacanha Carmody, mas pelo fato da origem do nevoeiro e de onde viera.

Descobri recentemente que Half-life da Valve fora inspirado em Nevoeiro. Se for um boato a qual acreditei — pois não li em uma biografia ou fonte confiável — pelo menos foi um fator que influenciou o game (1999). A série que foi adaptada, da qual em cinco minutos larguei-a, não demoraria a ser cancelada. Transformar o nevoeiro em coadjuvante legando a ele o papel de ‘enlouquecer’ e não de ser uma consequência vinda de uma outra dimensão cheio de monstros, foi o que fez série ser cancelada na primeira temporada.

Mas os outros contos são todos aqueles que passeiam por temas como: Vingança, heranças, loucura, fantasia, psicopatia, bruxaria, tecnologia, brinquedos assassinos e o inacreditável. Levei talvez um bom tempo para associar que a narrativa de King, tenha o pé completamente posto, em séries como Amazing Stories (Histórias Maravilhosas, 1985), Contos da Cripta (1980,1990), Além da Imaginação (1940, 2005), Quinta Dimensão (1990).

Todas histórias que intencionam serem comuns casos, quando você olha, tem algo estranho acontecendo. Como é o caso do conto “Macaco”. Que se trata de um brinquedo de macaco com dois pratos (címbalos). Toda vez que ele bate o prato, alguém morre. E uma voz ecoa na cabeça de quem irá presenciar o fato. Há Tigres aqui é aquele meio que fala sobre “Ou está acontecendo ou está tudo em sua cabeça”, o valentão tem um final horrível nas mãos do Tigre.

Excursão foi o conto que mais me impressionou. Teve uma adaptação, encontrei-a, e achei tão cafona que nem considera o peso do final. Excursão é o nome dado para teletransporte. E uma família vai usá-lo para viajar da Terra para Marte. Somente o patriarca viajou, os demais nervosos demais para sua primeira viagem. Mas então ele começa contando como a excursão foi criada. E tudo consiste em viajar, dormindo. Nada dura mais que alguns segundos. No entanto, o pai instigado pela filha que tanto quer saber o que aconteceram com os ratos durantes os primeiros experimentos, vê na pele quando atingem o seu destino, um filho de 10 com centenas de alhos e unhas do tamanho do braço gritando – “É muito, muito, muito tempo.”

Não entendeu nada? Excursão como eu disse é o termo usado para teletransporte. E para viajar, os cientistas descobriram que é preciso fazer o passageiro ir dormindo. O pai não conta, mas é que revela-se que entre o ponto de origem e de destino, existe um caminho. Este caminho, quando estamos despertos, é quase eterno. Nossa consciência vivencia todos os milhões de anos que há. Então, o filho para descobrir o que acontece, segura a respiração, não é dopado. E fica acordado. Ele então surge com um corpo de um velho com milhões de anos (e louco).

Outra história que me fez pensar em um filme feito pelo diretor indiano, M. Night Shyamalan que conta a visita dos netos aos seus avós, em a Visita. Mas a história que eu li, particularmente é melhor. Porque no filme, são dois velhos (que são confundidos com os avós das crianças) e são dois loucos. No livro, o conto se chama Vovó. E acontece que ela não é uma mulher normal. Já condenada pela idade, presa a uma cama na residência de sua filha, com cuidados médicos, quase cega. Tem certos acessos. Até ai, poderíamos dizer que apenas é coisa da idade.

Vai indo para trás, contando em flashbacks, que a mulher não tinha sorte em ter filhos, todos morriam. Frustrada ela começou a consultar-se com livros misteriosos. O conto não menciona do que se trata, mas ela milagrosamente começa a ter filhos normalmente. Mas de uma forma trágica, pessoas ligadas à ela, morrem. Sempre de uma certa forma, esses acessos ocorriam. E os acessos não eram normais, a matriarca mais velha simplesmente falava palavras estranhas sem sentido. E a pessoa em contato, morria.

O neto mais novo, ficou em casa, para que sua mãe pudesse visitar o seu irmão mais velho que se acidentara em um jogo na escola. E aquela foi a primeira vez, que o garoto ficou sozinho com ela. Ele já morria de medo, porque avó dele, sempre queria abraça-lo falando de forma assustadora, estendendo os braços e repetidamente querendo que ele se aproximasse. Varando a tarde pela noite, porque sua mãe saiu às 15h, durante o dia a mulher ficou desmaiada de sono. E o garoto com medo de cruzar o corredor e passar na porta da mulher.

Ele chegou a constar que ela estava inclusive morta, porque não respirava. Marcou o pulso, colocou a palma na frente do nariz e até um espelho para conferir a transpiração, nada. Estava morta. Mas ele percebeu momentos depois que não estava morta, estava viva e querendo que ele a abraçasse. A tia do garoto chegou até ligar para ele — no momento em que a mulher simplesmente perseguia o guri — importante citá-la, porque essa tia estava morta no dia seguinte há quilômetros da casa, apenas por telefone o contato.

O que posso dizer é que aqueles livros, as mortes, e as citações estavam associadas ao uso de bruxaria para que ela conseguisse ter filhos. Mas isso a condenou. No final, ela morreu…na realidade passou o para o garoto. Fiquei curioso no final para saber que livros eram aqueles. Tem por estes pontos, que ser vago na escrita muitas vezes é bom, mas eu sempre dou um jeito de dar sentido, nem que fosse para fazer um epílogo e mostrar que esses livros vieram de algum porão macabro da cidade. Por tudo, a história é muita boa.

O homem que não apertava as mãos, se tratava de uma maldição. Um funcionário foi o causador de uma tragédia na Índia, e foi marcado para sempre, toda vez que alguém tocava em sua mão, morria. Posso inteiramente contar cada um dos 22 contos, ficará para uma oportunidade futura no canal da Junca Games, com ilustrações sobre do que se trata. Abaixo, ressalto a escrita.

Características da escrita.

Começar por Stephen King é um desafio para quem está acostumado a ler livros em que a narrativa é direta, sem gastar espaço para descrições. Não sou averso a escritas diferentes em contextualização a qual mais gosto, que seria (o ponto de ver uma paisagem apenas por uma descrição absurda), mas prefiro na maior parte do tempo. Lovecraft é um Viking em matéria de ser prolixo. Viking por honrar a luta, Lovecraft honra o tratado literário. Não sei qual razão oficial não o fez famoso, mas tenho minha suspeita que sua forma de escrever cansativa (até para os padrões da época) tenham contribuído.

Por fora, eu li diversos contos do autor do começo do século 20 e não desgosto. Apenas que acha desnecessário parte dessa mania de reescrever algo mil vezes. Stephen King faz algo parecido, mas usa da metonímia, após fazer uso do perfil enciclopédico. Melhor, porque ninguém aguentaria ele descrever cada personagem do Clube dos Otários, e a cada passagem reproduzir o mini currículo toda vez que um deles surgisse na cena. IT já compensa em 1099 páginas tudo o que poderia (e digo isso, porque diferente do autor de Necronomicon), King realmente preenche as páginas com história e não redundância.

A escrita é menos simples, mais mediana e complexa. Mediana não me refiro a coloquial significado “medíocre” (significa na média em denotação oficial), quer dizer se eu falar algo medíocre em pé literário, seria algo até muito bem apessoado. Mas para nós no dia-a-dia, significa algo desprezível. Portanto que o uso de mediana(o) aqui é que exige um domínio considerável de vocabulário. Há estruturas narrativas que exigem percepção de mudança espacial e temporal (não é explícito em muitos casos).

Você está lendo uma passagem no tempo, em alguns momentos o autor passa para o passado e volta para o presente. Mas sem dizer – “1995, 1970” para situar. Simplesmente descreve algo que poderia resultar em uma transição de tela, se fosse no cinema, sem mencionar a data para apenas dinamizar o contexto. E isso se dá quando se quer passar de um local para o outro. Muitos casos, o autor coloca o personagem na ponta do mastro, quando há alguns minutos ele estava ainda no começo da rua.

Não, não é confusão. Muito da descrição emocional da cena são essas transições de lugar e tempo. E isso implica em uma atenção especial em figuras de linguagens. Que S. King usa bastante. E não são de maneira alguma simples, para quem está se acostumando a ler. Por outro lado, sou adepto desse tipo de escrita. Tanto que até sinto em arriscar dizer, que se você lê 90 páginas desse tipo de intensidade, para um texto mais simples, seria o equivalente a ler pelo mesmo período de tempo 200 páginas.

E nunca é proporcional. A depender da literatura que temos em mãos, textos mais antigos, que carregam-se em alegorias, floreios narrativos, descrições aprofundadas, esse ritmo de leitura pode ser mais ainda. Stephen King não seria para muitos, um escritor clássico. Talvez contemporâneo (mais acertado), mas se pegarmos uma autora como por exemplo Agatha Christie, que de muito antes, a escrita não é tão pesada (exigência). Por outro lado, um texto de Edgar Allan Poe ou Sir Conan Doyle, ou William Shakespeare (e inclua nisso qualquer texto anterior inclusive), não estamos falando de 90 páginas para 200 páginas.

E sim de (…) para 1000 páginas. Podemos pegar por exemplo Harry Potter. Compare. O conto do nevoeiro tem 204 páginas. A leitura é tranquila, mas pode engasgar alguns. A leitura direta desse conto é equivalente a ler sem perder o fio da meada e memorização boa, de 2 livros em 2 semanas ou um pouco menos que isso. Exagero? Vão por mim, não é exagero.

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