Vale à pena ver Não! Não olhe! ?

HISTÓRICO E DETALHES DE PRODUÇÃO.

Lançamento ocorreu no dia 25 de agosto de 2022, filme dirigido por Jordan Peele (Nós, Corra!, Sorria) e estrelado pelos atores Daniel Kaluuya (Corra!, Pantera Negra: Wakanda Para sempre), Keke Palmer (Prova de Fogo – Uma história de vida, True Jackson), Brandon Perea (Nós, The OA), Steven Yeun (Minari: Em busca da felicidade, The Walking Dead) e Keith David (Eclipse Mortal, Greenleaf).

O filme é basicamente um ‘enigma’, considerando a direção de Jordan Peele que gosta de fazer uma narrativa menos direta e mais prolongada. Os expectadores costumam sentir muito em relação ao mistério e as histórias dos personagens. Mas se podemos elogiar, também temos um pequeno problema com a direção. O filme consegue manter o suspense do que se trata, começa com um programa de televisão famoso chamado Gordy, onde o palco fora destruído e as pessoas aparentemente mortas.

Depois temos uma mudança de cena, que nos coloca com os protagonistas em uma fazenda em Los Angeles, o Vale Dulce. Aparentemente uma família que negocia cavalos para produções cinematográficas. E quando menos esperamos, ocorre novamente uma ação inesperada. E temos mais uma morte, inexplicada. Como este diretor gosta, a câmera costuma contar mais do que os atores. Então há focos de cena sem nada para falar. Isso torna a narrativa arrastada (mas não é ruim isso).

Após ocorrer este fato no mínimo curioso, nós temos o que seria um filme normal de uma família tentando ganhar a vida. E começa a acontecer situações estranhas, que são intercaladas com cenas que olham para cima, para as nuvens. E pensamos: Há algo nelas para ver? Se você já assistiu Nós, parte da trama não é bem ‘lógica’. E ela se desenrola quase sem nenhuma explicação, há uma explicação, mas não tão convincente. Esse é o lado ruim deste tipo de direção.

Irmão e Irmã lutam contra algo ameaçador em sua fazenda. E logo se deparam com algum fenômeno. Que parece influenciar eletrônicos, animais ficam confusos e nervosos e pessoas desparecem.

NARRATIVA E TÉCNICAS DE DIREÇÃO.

Nesta seção tem SPOILERS entre []

Narrativas que gostam de usar a câmera como diálogo com o expectador são muito conhecidas. E são uma ótima forma de contar a história. O que vemos, compreendemos. Muitas vezes não é necessário palavras. No entanto é uma técnica um pouco arriscada quando se trata de categorias em que o mistério e suspense precisam ter um toque menos invasivo de início. Ninguém quer que você descubra o mistério agora.

O filme é longo, tem 2 horas. E a narrativa tem foco bastante para o lado carrancudo do filho de Otis Haywood, O.J Haywood que fica o filme inteiro sem expressar nenhuma emoção. Desde a morte do pai, nem pela surpresa do fenômeno que faz título ao filme e nem sequer se importa muito com o que acontece ao seu redor. É como um personagem que só segue na vida, se cair, caiu. Se levantou, levantou.

Emerald Haywood é uma contrariedade do seu irmão. Mas também não expressa nenhuma perda em relação ao seu pai que morreu recentemente. E parece viver em uma realidade paralela. Inclusive não parece ter medo inicialmente dos problemas que cercam o local, e depois parece não ter nenhum impedimento de fugir dali. Já que em parte ela resolve os problemas do local.

As locações são bem específicas, fazenda, estúdio e programa do Gordy. O foco é exatamente ali na fazenda do Heywood. As narrativas são muito conectadas com o foco do que é sobrenatural, ou seja o que se trata o “Não! Não Olhe”, que no título em inglês é NOPE (Significa Não) mas com um certo desdém. E os personagens O.J e Emerald parecem significar isso, já que expressam sentimentos antagônicos a sua família, mas desejam ser famosos por capturar alguma imagem do que anda perturbando a região.

A outra parte desta narrativa é que muito das conclusões são feitas sem parecer que ninguém está fazendo esforço. Por exemplo, quando eles vão fazer uma compra na loja cidade, eles pegam os equipamentos de segurança, tem uma conversa um pouco amistosa e depois confusa Eles mal falam algo, e o vendedor à frente deles parece ter ouvido uma bíblia de explicação (que não aconteceu) e deduz que eles estão comprando tudo aquilo por causa de aparições em sua fazenda.

Veja que esse último parágrafo descreve muito esse filme. Tem partes que ninguém fala nada, não dá entender que era isso e nem tem sinal de ser. E mesmo assim os personagens parecem se comunicar de forma telepática. Isso acontece, não é porque o filme é ruim. Mas porque a linguagem dele é menos ‘lógica’. Quer dizer, imagine que fosse comum você ver Aliens. E mesmo que você não os veja todos os dias, ao acenar sua cabeça para uma outra pessoa em um ritmo específico, ela entende que você está falando que – “Aliens estão comendo sorvete da mercearia”. Essa é a narrativa deste filme.

Mas nós expectadores não sabemos muito dessa linguagem e portanto o filme parece não ter muito sentido. Logo a técnica usada para contar a história nos passa frieza dos personagens (apesar da sinopse) eles nem sequer ligam para a morte do pai, não há um processo de luto, eles parecem ter uma separação do que é franco e frio em uma relação humana, em momentos específicos vemos Emerald se lembrar da sua infância e a única coisa que ela expressa é egoísmo puro.

E o que vemos em O.J é de puro desdém da vida. Essa linguagem quer demonstrar do que se trata o filme. E vou deixar difícil de ler a PARTE entre COLCHETES pois elas possuem SPOILER.

[SPOILER]] Não é explicado a origem, mas parece ser uma forma animal predatória que usa os ares para se locomover. Não tem uma forma comum, parece uma disco voador, mas não é uma nave. É uma criatura. E não é revelado se é de fora da ferra ou da terra. O formato predatório é de revelar que tudo que o cerca é alimento. Não existe relacionamento. Portanto, o diretor quis passar essa sensação em relação aos personagens 'humanos'. Que eles não se importam. Que tudo que se trata é caça e sobrevivência. Usando os personagens como pivô de explicação do foco da criatura. Ela não se importa. Ela quer viver. Não falar. Nem conversar. Você morre, ela vive. [SPOILER]

Um desses pontos de conclusão subjetiva, que acontece na cabeça do diretor e nos é passado como se fosse um bolo pronto. Acontece com O.J simplesmente conclui que o que ele está vendo não se trata de um UFO e sim de uma criatura. Nós ficamos perdidos. A história é contada quase em um formato de metáfora. É bom por um lado, mas pode ser desconcertante para quem espera linhas de raciocínio.

A trama é direta, ela não faz você pensar e sentir um frio na espinha. É como uma história em primeira pessoa, mas sem dramatização das descobertas. É como ter um ‘checkpoint’ indicando onde fica cada coisa. Não lhe permitindo se perder, ou descobrir outras coisas no lugar. É como um enredo amarrado.

PRÓS E CONTRAS.

A narrativa é um PRÓ e um CONTRA, a forma do relacionamento, de conclusões que saem do nada. Tudo isso pode ser apreciado ou não desejado. E quando olhamos para o mistério depois de revelado, muitas coisas passam a ter menos sentido e menos impacto quando a vemos pela primeira vez. Isso não torna o filme ruim, mas ele é visto de uma forma ‘menos’ interessante, porque estamos acostumados a ver por um padrão.

PRÓS:

  • O tema é modelado em uma forma que a gente não esta acostumado;
  • A composição das cenas nos revela aos poucos do que se trata;
  • Quem vai para o filme já esperando algo, pode ficar surpreso;
  • Os personagens, o ambiente, o flashback promove aos poucos o tema do filme;
  • O antagonista é interessante;
  • O filme é suspense, ficção científica e um pouco de terror.

CONTRAS:

  • Muitas cenas parecem não ter muito sentido para narrativa;
  • Os personagens são apáticos;
  • As Mortes no filme são super banalizadas;
  • Não há mistérios respondidos;
  • Nem mesmo qual é a relação entre Gordy e o momento atual;
  • Narrativa é subjetiva aos personagens, os expectadores ficam de fora.

COMENTÁRIO SOBRE ALGUNS PRÓS E CONTRAS.

Vamos falar sobre os CONTRAS, em específico “A relação de Gordy e o momento atual”. Como é normal, todo flashback ou cenas que podem ser do passado ou do presente, precisam contar uma história. E não é que o ‘Não! Não olhe! seja ilógico. Mas não é um padrão de narrativa que vemos todos os dias. Não é uma intenção do diretor nos permitir entender exatamente o que acontece, e também existe uma impressão óbvia de entendimento pelo lado emocional e não racional.

Quer dizer, o filme não tem haver com um processo como “Vá para o metrô, siga até estação próxima”. O metrô significa a vida, é uma metáfora. Seguir significa ir adiante, esquecer o passado. E ir para próxima estação é mudar o disco e ir para outro momento da vida. É exatamente um tipo de história que pode ser menos intuitiva. Mas isso não tira que o papel de contar a história tenha algum sentido entre essa ‘loucura’ metafórica.

Por exemplo, o fato dos personagens serem apáticos. É devido o lado predatório do ANTAGONISTA. O protagonista que seria o O.J e a Emeralad não parecem se importar com nada. A não ser com eles mesmos. O mesmo faz aquilo que perturba o sossego do vale Dulce. Essa forma fria de levar a vida demonstra justamente o que se falar sobre a vida de um predador. Que só tem sentido em caçar para viver. A forma primitiva. Outro ponto é a relação de Gordy, que é um chimpanzé de televisão que mata todo mundo durante um programa.

Demonstrando que ele matou todos por seu instinto animal. Não é uma relação óbvia dita no filme, eu a mencionei como contra, porque mesmo que o filme tenha uma linguagem de metáfora, neste caso uma metalinguagem, ela precisa deixar claro isso. Senão o filme vira uma iguaria para poucos. Não é todo mundo que vai querer se esforçar para ver esse sentido. Se você não liga-lo, a cena inicial é ‘nada haver’.

E apatia parece ser algo comum entre todos os personagens. Inclusive quando o antagonista passa sobrevoando você nota os gritos de horror. E ninguém parece ser importar. Porque o tema do filme é “Nope”, simplesmente NÃO. Não para tudo, empatia, emoções, vida, sentido. E exatamente isso que o filme retrata. Do começo ao fim. No entanto apesar dessa mensagem que é um pouco complicada de ser ‘avaliada’ logo de início, gostaria de incluir um CONTRA nestes comentários que não se encontra na lista.

Para derrotar o antagonista, eles usaram um sufocamento. Pois o mesmo comia tudo que via pela frente. E depois cuspia as partes que não gostava. É como um devorador. E apesar do tamanho da COISA, conseguiram mata-lo usando um balão inflável. Ao engolir, eles o destruíram. E ponto final. Seria uma analogia que ao comer de tudo, a sua fraqueza era justamente a ganância? Embora seja um CONTRA, o coloco justamente pela linguagem do filme ser um pouco confusa da usual.

CONCLUSÃO – VALE À PENA?

Apesar de parecer que estou malhando. Eu gostei do filme. Pelo suspense de algo escondido e depois pela mensagem do filme. Que não é tão óbvia logo de cara. Porque nós esperamos uma narrativa mais racional. Como de um Alien que ataca uma pessoa, podemos interpretar isso para o dia-a-dia como sendo uma perturbação. E isso seria uma tradução da metáfora que o alien representa. Mas não o fazemos por natureza.

Essa é uma filosofia pouco aplicada no dia-a-dia. Podemos ver Matrix como uma processo de libertação da ilusão, algo que nos leva ao Budismo e a Sidarta Gautama. Podemos também levar em consideração o que representa o Superman. Alguém que foi enviado de um planeta moribundo para um outro com a missão de salva-lo. A metáfora de cada um desses pode ser compreendida como Esforço, fé, crenças, sentidos e por aí vai.

Mas em Não! Não Olhe (Nope) o filme é uma metáfora porém com as características que representam a frieza da sobrevivência. Não há calor em sobreviver. É agir para viver. Então não existe uma emoção humana, mas instinto. Assim pelo Gordy que matou tudo porque ele é um predador. Não é algo domesticado. Os seres humanos parecem apáticos, não tem esperança, não possuem qualquer sentimento por família, amigos ou mesmo o mundo.

O conceito é de predação, sobrevivência, caça. O filme não tem final para definir, tem final, mas não defini o que é aquilo e nem como chegaram nesta conclusão. E então você percebe que O.J concluiu algo sobre, porque o filme quer dizer, que todos estão sobrevivendo. Então é um comportamento familiar. Você age daquela forma e portanto sua conclusão seria obviamente essa que você está pensando.

Os CONTRAS E PRÓS são para deixar claro que apesar do filme querer ser uma metáfora pro completo e ser exatamente o debate filosófico que existem aos montes pelo dia, ele peca por não mostrar um caminho comum de entendimento do que cada cena se relaciona. E mesmo as emoções ali retratadas deveria ter algum personagem com calor humano apenas para demonstrar que há algo sendo contado e o quê. Ao meu ver, o filme é bom, porém muito confuso.

Minha nota (apesar) é 8.5.

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