Análise do filme Mãe vs Andróides – Vale à pena?

GÊNERO – FIM DO MUNDO.

Não tem muitos dias que escrevi uma análise do filme “Próxima parada: Apocalipse” com Forest Whitaker (No original – “How it Ends”) em que a premissa era algo de errado aconteceu e talvez tenhamos que descobrir. O problema é que o final é bem decepcionante. O que torna o filme após esse desfecho, também uma perda de tempo. No filme estrelado por Chloe Moretz, o problema se dá em diversos pontos, sobretudo o roteiro.

Sinto que o roteiro é muito importante para a qualidade do filme. Deixa-lo a mingua me faz pensar que fazer cinema tem sido uma tarefa relapsa. Sem dramas. Sempre houve roteiros sofríveis na indústria. Já falei isso em diversas ocasiões, não é uma tarefa simples criar uma história que faça sentido na tela. Às vezes uma frase tem muito efeito no papel e parece ridículo quando filmado.

O editor depois pensa como compor algo que foi filmado e faça sentido na narrativa. Há filmes que são poéticos, diretos, indiretos e uma soma de um pouco de tudo. Há quem goste de roteiros sem noção. Que não começa com sentido e termina sem menos sentido ainda. Faz parte do cinema o gosto de cada um. No entanto quando o roteiro peca em detalhes básicos, até o que podemos considerar ‘sem noção com algum sentido’ de ser sem noção, não parece ter o mesmo impacto de uma história que não há nenhum apelo, mesmo que legítimo, do emocional.

Em Mãe vs Andróides, pense em um filme que conecta a mesma atmosfera do game Detroit: Become human (vou explicar, caso não tenha jogado) com o início do conflito que não vemos acontecer em Exterminador do Futuro. E um pouco, mas menos violento, e talvez menos incisivo, do que o Eu, Robô (2004) com Will Smith. Combinamos dois filmes e um game com a temática, IA se revoltando.

DETROIT: BECOME HUMAN.

Detroit: Become human é um game desenvolvido pela Quantic Dream que tem a característica de fazer jogos ‘filmes’ onde interagimos. Não filmes como FMV (atores de verdade), mas de CGI com MOCAP (Captura de movimentos) onde você controla três personagens com diferentes perspectivas de uma situação conhecida como divergência.

As máquinas com formas humanas operam em residências, substituem filhos, trabalham em empregos perigosos, começam a desenvolver consciência. No jogo o fenômeno explicado como um algoritmo de divergência.

Alguns querem viver pacificamente, mas outros, não querem fazer uma revolução. Como temos três personagens, temos as possibilidade de experimentar o lado pacífico (fugir dos Estados Unidos) e ir para um lugar que não considere máquinas como objetos, optar por fazer justiça usando as leis dos seres humanos em defesa de outros androides ou fazer uma revolução e obrigar o ser humano em aceita-lo por bem ou por mal.

COMEÇO.

A personagem de Chloe Moretz (Georgia) começa o filme na casa dos parentes em uma festa de Natal. Ali conhecemos um pouco sobre a vivência de ser humanos e androides. É possível perceber que o que está servindo como anfitrião, demonstra um erro. Ele confunde as datas. Celebra o Halloween, enquanto que é Natal. Apenas para dar um toque que há algo de errado.

Antes que o incidente ocorra, Georgia descobre que está grávida e logo conta para o seu namorado Sam (Algee Smith). Eles não possuem exatamente uma relação de namorados e não há um comprometimento muito por parte da própria Georgia em relação à isso ou ao bebê, entenda que esse gancho é importante. Porque ela fica em dúvida de muita coisa, parece o óbvio, que a gravidez é indesejada e que o relacionamento dos dois não é bem…sólido.

Após contar para uma amiga. Acontece um apagão. Neste momento o desenrolar faz com os androides da casa outrora serviam, agora estão matando os residentes da casa. E o mesmo acontece fora dela e por toda a cidade. Com uma visão aérea é possível notar que há um conflito ocorrendo.

SALTO DE 9 MESES E UMA BUSCA POR ÉDEN.

Não fica explícito no filme que o salto ocorre 9 meses após o incidente inicial, pois não há aquela “menção” de passagem de tempo. Só sabemos que passou esse tempo, porque ao ingressarem em um posto de sobreviventes, Georgia afirma que está grávida de 9 meses. Sam, seu namorado, é por ela acompanhado.

O problema surge desse ‘SALTO’ em especial porque o final do filme não tem muito tempero devido ao decorrer do que podemos chamar de maratona dos dois. Eles ouviram, algo que não é explorado e tampouco revelado para nós, que na Coréia do Sul, eles estão abrigando pessoas que querem fugir dos Estados Unidos. Dando a entender, muito que subentendido, que o único país que não foi afetado, foi o país sul da a Coréia e que o restante do mundo está lascado.

Mas não temos essa informação. Apenas que há uma ponte entre Estados Unidos e Coréia, e o fim daquele pesadelo. Com esse frenesi, Sam coloca tudo a perder, quando ele faz com o casal seja expulso do acampamento, gerenciado por militares, mas cheio de civis. Um típico lugar de sobrevivência pós apocalipse.

Como Sam faz eles serem expulsos? Como ele quer chegar em Boston e pegar a tal da embarcação para Coréia, ele tenta conseguir a informação com algum dos soldados, enquanto eles fazem uma espécie de ritual com brasa, marcador e uma enorme fogueira.

Mas o jeito que eles propõe em dar ao Sam a informação, e talvez, quem sabe, um transporte até lá. É entrar em uma briga. Não vemos essa briga. O que sabemos, é que no dia seguinte, ele foi o responsável por fraturar o crânio de um soldado que parecia ser muito maior e treinado que ele.

Há uma surpresa interessante, durante o que se chamaria de sermão, o chefe do acampamento, um militar com o ar de ‘general’ do campo de batalha, cercado de mapas, rádios e um corre-corre. Afirma que o acampamento é composto por civis que não sabem lutar e guerrear, e metade de uma pelotão que não daria cabo dos androides. Exceto um mecanismo de PEM que pode desativa-los, o problema é que se só podem usa-la uma única vez.

Mas ele opta por expulsar o casal, depois que ele demonstrou, na pior das hipóteses, que consegue bater num militar treinado? Não faz muito sentido. Então eles voltam para estrada e acabam numa casa abandonada. Uma bela casa, intacta para ser exato, no que eles chamam de terra de ninguém (Badlands) ou Wastelands (Ermos) para alguns.

Nestas terras não há postos. Mas estão lotados de androides sedentos. O curioso é que o pouco que vemos da relação dos dois é um hiato. Lembram que no começo do filme é bem claro que Georgia e Sam namoraram e que a gravidez deixa mais claro ainda, que parece que eles não estavam exatamente juntos? Durante o filme, Sam assume um papel delegado a protagonista, que seria Georgia. Aliás o nome do filme é “Mãe vs Androide” e não “Pai vs Androides”.

Georgia parece uma mosca morta no filme. Não digo pela atuação da atriz. Apenas que a personagem parece ter uma força titânica, mas não usa. Ter poder de decisão, mas não demonstra. Ainda que esteja insegura quando o que pensa em relação à ela e ao Sam, ela não parece constituir uma família de fato. E quem discorre sobre esse pensamento é o Sam. Como se ele fosse um pai assumido (que não é) e tivesse o aval de um herói que enfrenta manadas de búfalos para salvar quem seja (que também não é).

Vimos que no acampamento ele demonstrou uma burrice sem igual. Durante a estada por lá, Georgia teria seu parto em um hospital e com uma médica. E ele pensou que Boston seria melhor do que sua ‘namorada’ ter o conforto de um parto sem dor. Mais tarde veremos que ela sofreu tanto, que dá desgosto em ver o final.

Após pensar mais uma vez, Sam acha que eles deveriam pegar uma moto que estava ali disposta. Pensando bem, depois de 9 meses, quem deixaria uma moto que só precisava de um ajuste. Nem digo no motor. Com menos de 1 dia, a moto não precisou de reparos e tampouco de troca de peça. Estava ali apenas ligada, com gasolina e inteira.

A ideia era pegar a moto, correr 32 km até Boston, pegar a embarcação e fugir da terra da liberdade. O problema é que até foram informados no posto que foram expulsos, é que somente a mãe e o bebê poderiam embarcar. O pai precisaria ficar para trás. Surge talvez um apelo emocional. Pois a própria Georgia passa a considerar que ele tem que ir de um jeito ou de outro. Assim como aquele gancho do começo do filme, peguem este também.

UMA IA MAIS HUMANA, UM HUMANO MENOS HUMANO.

Durante a tentativa de sair comendo ou chutando poeira, a moto é perseguida por sedentos androides. Que mais lembram zumbis. Eles correm atrás como se não houvesse um amanhã. Disfarçado, acho que a IA agora era uma nova roupagem para comedores de carne no lugar de cheio de circuitos brilhantes. Isso tira a total imersão. Aliás lembra da minha comparação com Eu, Robô, Detroit Become Human e Exterminador do Futuro?

Aqui na Badlands, essas IAs deveriam ser ZA (Zumbificação Artificial). Eles não agem como divergentes. Com personalidades próprias. É como se fossem zangões Borgs. Apenas que tem a mente única, é a Rainha. Embora essa única, ainda seja coletividade, ela comanda a todos. Enquanto Sam é pego pelos Androides, Georgia é resgatada por um homem estranho escondido nas matas.

Levado ao abrigo do homem misterioso, chamado Arthur (Raúl Castilho), Georgia agora sozinha descobre que aquele solitário salvador, perdera tudo. E que seria um engenheiro de uma empresa que programa essas IAs. Com algum conto-sermão para dizer. Ele apresenta à ela, uma tecnologia que permite invisibilidade aos Androides.

Convicta em resgatar Sam, ela pega a malha e vai até uma casa onde humanos são levados e mortos. Não tem muita lógica. Uma vez que os androides estão ali apenas para matar humanos em uma casa. Não é um circo de horrores. Mas existe uma cena intensa que um androide atraído pelos barulhos, esmaga a perna de Sam.

Outro ponto a considerar é como o Sam continuou vivo e acordado, depois do androide pisotear repetidas vezes a perna dele. Mais tarde em um posto, quando são levados os dois após um resgate quase frustrado, é que Sam precisou amputar as duas pernas, dado a extensão dos danos. A cena do que seria este mal tratos não foca na perna, foca no androide descendo o pé. Dá para entender que não foi pouca coisa.

Então temos um Sam super forte, que ainda consegue ficar acordado depois dessa fratura pós fratura, consegue andar, é levado por Georgia, que por fim está grávida, tendo dores da contração. Até porque ela acaba tendo o bebê durante o resgate de Sam. Mas ele continua ali inteiro, como se nada tivesse acontecido com o pé dele?

Enquanto Sam finalmente parece desmaiar no caminhão de resgate de Arthur, Georgia começa a ter o bebê. E chega no hospital do posto próximo com o filho já nascido.

ATAQUE AO POSTO, TRAIÇÃO, IA LÍDER, IA ZUMBI.

Aqui acontece outra sucessão de um roteiro mal planejado. Os androides parecem menos inteligentes e apenas como máquinas mandadas do que personalidades assumidas. Arthur não é um ser humano, e sim uma máquina extremamente inteligente. Capaz de enganar e conseguir se infiltrar em um posto para desativar a PEM e conseguir tomar o controle local.

Ainda não se sabe, não é revelado no filme, porque essa IA é mais inteligente que as outras que parecem um bando de zumbi abestado. Mas compreende-se ele ser o líder. Depois de levantar da maca, sabendo que o erro a levou trazer o inimigo para base, que é aniquilada, ela arrebenta os pontos da cesariana bem no nível da Elizabeth Shaw em Prometheus, sentada em uma cadeira de rodas com um bebê recém nascido correndo contra o tempo até o PEM.

O problema é que não sei se ela estava indo ao PEM de propósito ou na correria foi parar lá. Se for o segundo caso, ela ia deixar o SAM para trás, sem as pernas naquele posto já tomado. Se foi o primeiro caso, não faz muito sentido. Até o ataque e desde o resgate, ela não andou em nenhuma parte da base e tampouco foi informada sobre qualquer pendência. O que deixa cega a qualquer setor do lugar.

De qualquer forma, ela chega no mecanismo de PEM. Isso me faz lembrar de duas situações, porque essa é uma ocasião que se assemelha. Quando ela chega próximo a porta do dispositivo. Arthur e alguns androides alcançam ela. A ponto de parar e fazer um discurso revelador. Ali sabemos que ele é uma máquina. E ela não esboça exatamente uma reação de surpresa. Embora antes de sair do hospital, ela tenha sido interrogada para saber quem era Arthur, e a base só é atacada, após ela dizer algo do tipo – “Acho que eu me enganei.”.

É ainda mais impossível que a narrativa tenha se concentrada em uma história de reviravoltas sem muito sentido de como é possível que elas acontecessem. Logo após perceber que talvez tenha sido enganada, que os flashbacks de sua conversa com Arthur e as situações tenham sido o suficiente para ela sacar que além de algo estar errado, ela puxou uma cortina ao lado de sua cama, revelando uma enfermeira destroçada e morta.

Os androides foram bem furtivos em mata-la. Um pouco antes, a doutora que atende a Georgia, afirma que deveria haver uma enfermeira naquele turno e ali. Engraçado é que ela estaria morta ali do lado sem ninguém ver? Ou o androide matou-a em outro lugar e teve o trabalho, e o perigo de revelar sua posição, e arrasta-la até o hospital? Não há alguma explicação para isso.

Quando finalmente ela se dá conta, com o ventre aberto, fraca devido ao parto, com um bebê no colo e sentada em uma cadeira de rodas, ela conseguiu evitar que uma turminha bem volumosa de androides, bem mais fortes que um ser humano, fosse impedida para que ela pudesse em um momento único de Hit Girl (Kick Ass), ela puxasse o botão e pronto, os androides foram para o beleléu.

Sabe a resistência dela e a superação são fascinantes, mas contra fatos não há argumentos. Eles são mais fortes, em maior número e ela mesmo inteira com tudo nos trinques perderia. Seria o mesmo que a fumaça gigantescas do How it Ends não pegar o carro, o Godzilla de 1998 não alcançar o táxi. Acho que há um problema nesta situação toda.

NO CAIS, CORÉIA, UM FINAL SEM MUITO O QUE COMENTAR…SERÁ?

Como no começo do filme, a tela fica preta, e vamos direto ao cais o que seria de fato o destino final para levar, Georgia, Sam e o bebê para fora dos Estados Unidos. Fica algumas perguntas: Como eles saíram da base e andaram até Boston? Com que carro? Além dos androides que estavam destruídos pelo PEM, ainda deviam existir outras centenas entre ele e o cais. Sem falar que ela estava ferida, com um bebê de colo (será que ele comeu?) e o Sam sem as pernas, como foi isso. Eles mudaram as bandagens, ou ele fez a viagem sem nenhum risco de infecção?

Eles chegaram no cais. E lá estava um barquinho com agentes Coreanos. Quando eles finalmente chegam. São logo surpreendidos como uma nova informação. Não mais, e apenas Sam seria impedido de ir. A mãe também deveria ficar. Apenas o bebê poderia ir. De acordo com a explicação, é que eram muitas bocas para alimentar. E que o Sam e Georgia precisariam de um médico devido suas situações.

Antes que pensem que haveria outra resposta, pensem que este final é uma agonia. Ainda que o filme tenha um roteiro bem fraco. Os dois lutaram como loucos, para no final, fazerem o que exatamente? Entregarem o filho deles para estranhos em uma possível Coréia sem problemas? Depois de serem enganados por Arthur, não seria estranho que somente os bebês fossem aceitos? Bebês precisam de mais comida, dão trabalho, muito mais que adultos.

Surge a suspeita que talvez, talvez, a Coréia tenha se tornado um antro central dos próprios Androides. Mas tudo bem que essa teoria não passou pela cabeça dos dois pais jovens e inexperientes. O que eles fazem é o que eu não faria. Antes que o bebê teria mais chances, seria com os pais. E não em um país estrangeiro, vamos pensar antes na travessia do mar. Que eu gostaria de saber como um bote consegue chegar na Coréia do Sul da distância dos Estados Unidos em pouco tempo.

Então mais uma vez, o pai, Sam convence a Georgia que isso é bom para o bebê. Depois de tanta ‘escolha inteligente’ que ele fez, fico surpresa que ela continue ouvindo ele. Mas então, ela entrega o bebê. E tem no final uma espécie de ‘flash-forward”. Ela parece fazer um diário verbal para o bebê, embora não faça nenhuma gravação.

Mostra cenas, do casal brincando com o filho já criança. Todo um envolvimento e relação que não vemos em nenhum momento do filme. É válido querer um Snyder Cut aqui? Ok, mas as cenas finais não fazem jus a correria do filme e entre os saltos de 9 meses atrás com os saltos da briga do Sam no primeiro posto e nem o que de fato aconteceu no segundo posto.

Antes de terminar o filme, no momento em que os dois entregam o filho. Eu já havia publicado nas Redes Sociais para as pessoas não verem este filme. Para ter uma ideia, nem a cena final que parecia mais emocional, não tinha muito contexto. Não há uma recomendação de título para renomear, porque não há muita conexão entre maternidade e paternidade no filme. Parece a luta de dois pais jovens procurando um futuro melhor para o seu filho.

Mas essa trama não se desenvolve. E é a principal do enredo. Infelizmente o começo dá um gosto bom que seria um suspense interessante em uma ficção científica de inteligência artificial. Mas infelizmente o roteiro apenas foi uma dificuldade.

Não há tempero nos personagens, nem desenvoltura, nem de relação entre os dois, nem de fatos que aconteceram, tampouco como seria possível algumas situações e nem como a passagem de tempo foi tão gentil com os dois em um ambiente desfavorável e de poucas chances de sobrevivência.

Ainda que lá no começo da análise não tenha sido detalhado em falar, mas como eles sobreviveram sem ter nada disposição? Uma grávida precisa de repouso, alimentação e cuidados médicos. Como a Georgia parecia que visitava o médico todo mês? Os dois pareciam que davam uma pausa no apocalipse. Depois de 9 meses não seria muito possível, que talvez, ela tivesse perdido o filho.

Nota: 0.0 de 100.0 (Roteiro ruim, personagens sem desenvolvimento, trama principal sem sal e final horrível).

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