Análise crítica Vai que dá Certo 2 – Vale à pena?

EM RETROSPECTIVA.

Em 2013, o primeiro filme de mesmo nome apostou em nomes famosos e conhecidos da comédia presentes em Stand-ups, Comedy Central, Portal dos Fundos, humor pastelão, barato e até agridoce, o chamado ácido. Há um equilíbrio na comédia do cinema brasileiro. Há diferentes fases também da comédia no Brasil.

Filmes que misturam muito o gênero são quase sempre uma fórmula que dá certo. E quando falo quase sempre, citamos o Vai que dá Certo 2, que é o caso exemplar do que não deu certo. No primeiro filme, a trama envolve o elenco que o mesmo do segundo, com ausência de Gregório Duvivier, mas estão presentes Rodrigo (Danton Melo), Danilo (Lúcio Mauro Filho), Amaral (Fabio Porchat), Tonico (Felipe Abib), vô Altamiro ( Lúcio Mauro), Jaqueline (Natália Lage), Cid (Felipe Rocha) e Da Silva (Ravel Cabral).

Que para conseguir se darem bem na vida, eles aceitam um plano de Danilo, primo de Rodrigo, que é de roubar um carro-forte cheio de dinheiro, uma empresa que ele trabalha. Mas como é de esperar, nada dá certo. Por isso o nome do filme é quase uma pergunta…vai que dá certo. No final eles acabam conseguindo se livrar dos problemas.

No segundo filme, temos o mesmo elenco com ausência do personagem Vaguinho (Gregório Duvivier) e o acréscimo Simone (Verônica Debom), Elói (Vladmir Brichta) e Jorge (Rodrigo Pandolfo). A parte qualquer qualidade do elenco, a sequência bate no tema de chantagem. Pode ser considerado um roteiro forçado, já que a chantagem envolve situações que nem sequer tem conexão direta com os personagens principais.

ROTEIRO BAGUNÇADO E FORÇADO.

A invenção de uma irmã de Danilo, Simone, é a única ponte que faz com que eles entrem em contato com um tipo de vídeo que parece encrencar um homem rico. Mas que ao decorrer da trama revela ser uma armadilha criada por Simone para ganhar em cima. O primeiro ponto que devemos considerar, é que o primeiro filme já possui uma fronteira bem sensível a comédia presente nele.

A comédia do Vai que dá Certo de 2013, não é uma comédia plena. Você tem um assunto um pouco sério sendo tratado no longa. É uma mistura de corrupção política, policial e roubo de empresa. Ainda que esse tipo de pano fundo possa ser transformado em um motivo de fazer humor, é antigo. A variedade de filmes que temos conseguem transformar isso sem transparecer o quão sensível são os temas.

Mas tem quase um taco solto no piso quando se trata de fazer comédia onde a seriedade pode acabar ocupando espaço da piada. Mas com as situações em que os personagens acabam se colocando, eles mostram mais a comédia do que o lado não cômico. Mas se tirarmos os irmãos Tonico e Amaral, é praticamente um filme na mesma atmosfera (mais ameno) de Tropa de Elite.

O segundo a química dos irmãos é a única coisa que segura as pontas, porque de comédia, o filme não tem nada. Trata-se de uma chantagem emocional usando uma gravação onde o intuito é conseguir dinheiro, até aí nada demais. O problema é que mais do que humor, o filme concentra as forças em demonstrar violência. Uma bem explícita, que é o relacionamento nada amigável e tóxico de Jorge e Simone, no próprio longa ele bate nela e a cena nem é censurada. Essa cena me deixou bastante desconfortável.

Como ela não acontece no final do filme e sim quase no meio, passei a tratar o longa como um filme de drama e ação policial e não como comédia que era o caso do primeiro. Neste segundo existe um contexto de piada que não é mais piada. Ainda que possamos classificar alguns níveis como ‘respeitáveis’ ou que todos irão rir. Mas o filme é bem mais sério que o primeiro, tanto na trama como na desenvoltura dos personagens.

Rodrigo interpretado por Danton Mello já era desde do primeiro, mais centrado, mais posicionado a fazer as coisas da maneira certa e alguém que está procurando endireitar na vida. Apesar de que as situações dele ao reagir as burradas dos irmãos Tonico e Amaral, e sua relação nada amigável com Danilo seja motivo de risada no primeiro longa – o personagem dele sem essas cenas, não é nada engraçado. A reação dele de inconformado é apenas cômica com ajuda de outros personagens.

Jaqueline entra em cena e sai de cena no filme. Dando a entender que o primeiro ato é mostrar que Rodrigo está mudando de vida, mas ao mesmo tempo está com problemas com seu primo trambiqueiro e seus amigos atrapalhados. Embora não tenha sido uma contabilização da minha parte, o relacionamento de Jaqueline com Rodrigo que chegam a casar neste filme, é a primeira cena inclusive, não parecem ter os dois alguma maturidade para ter algo entre eles.

O que demostrar um roteiro tentando contar muitas histórias ao mesmo tempo, mas não tendo tempo para conta-las. Para isso fazer sentido, Rodrigo precisaria se casar com Jaqueline no último filme, assim neste seria possível demonstrar a força do casal. Que parece mais que nem um deles tem muito propósito de estarem juntos na prática.

Danilo continua sendo o primo trambiqueiro. Neste longa ele parece ter sido perseguido por conta de uma fita de vídeo. E pede ajuda ao Rodrigo e Jaqueline para que ele fique em sua casa, com medo de alguma possível represália. Ao colocarem para a fora, o primeiro ato, ele é morto.

SEM NOÇÃO….VAI QUE DÁ CERTO.

Tudo bem, depois sabemos que Danilo volta, porque ele forjou a sua própria morte e daí revelando que o plano fora construído por sua irmã Simone, que a fita também foi uma invenção dela.

Talvez o ponto da narrativa que faz menos sentido, além dos envolvimentos forçados do Rodrigo nesta bagunça, é o ingresso dos irmãos Tonico e Amaral. Eles praticamente aceitaram pular da tábua para a boca do tubarão, em alusão ao castigo imposto pelas histórias de piratas. No filme, Elói, aceita se encontrar com Amaral e Tonico, para receber a tal fita e dar à eles 1 milhão de reais, e garantir o silêncio dos dois.

O pior tudo que ele quer a fita para evitar ser exposto. E onde o Elói aceita ver que a fita se trata da verdadeira? Numa Lan House lotada com a caixa de som bem alta. E sem falar, que ele não precisaria que alguém o visse no vídeo, ele faz questão de falar isso em alto e bom som. E ele não precisaria pagar o 1 milhão de reais para eles, bastava pegar a fita e eles não teriam provas nenhuma.

O cara é tão discreto que parou na frente da LAN HOUSE com uma Ferrari e vestido a rigor. O outro detalhe é que uma Ferrari reluzente ao vermelho sangue, ninguém se amontou para ver a belezura. Continuaram navegando na internet como se nada existisse. Essa cena chega a ser surreal de tão absurda.

Pensa em como essa parte do roteiro soa forçada? Qualquer um que liga para você e fala que você é amigo do tal cara que te deve algo e você cai na armadilha desse cara, e olha que são dois bobalhões. O Amaral chega a ter simular outra voz quando liga para marcar o encontro. Parecendo aqueles filmes de Scooby Doo – nada contra, eu adoro as aventuras deles. mas foi muito forçada aqui.

O outro pior é que Danilo não tinha necessidade de forjar sua própria morte. Pelo que consta em uma cena posterior a notícia de sua possível morte. Os policiais Cid e Da Silva que trabalham para o Elói conversam entre si que o problema foi resolvido. Mas depois descobrimos, que o atentado ao carro foi um plano do Danilo e da Simone. Esse foi o furo de roteiro mais feio que eu já presenciei.

Outra parte do roteiro complicado, foi de incluir o Rodrigo na trama, já que isso abriria a questão dele ser perseguido por uma pessoa, que nem sequer estava perseguindo ninguém ou tampouco havia alguém perseguindo. De acordo com Jorge, haviam apenas três pessoas que sabiam do vídeo:

  • Jorge;
  • Simone;
  • Danilo.

Elói só ficou sabendo, não fala, mas fica subentendido, pela Simone. E mais ninguém. Como a morte do Danilo e a entrega do vídeo para o Elói, colocaria o Rodrigo no alvo? Não colocaria. É tanta sem noção, que se você achar que o gato da Simone tem mais sentido (que não aparece na trama, só o seu miado), você ficará muito feliz.

CLIMA PESADO, TRAMA E PERSONAGENS MENOS CÔMICOS.

O filme Vai que dá Certo 2 não é comédia. O primeiro é. Já com um limite bem definido. Um erro de roteiro ou cena já classificaria o primeiro em uma tropa de elite sem dificuldades alguma. Agora o segundo não é comédia. Acho que a cena que eu achei mais engraçada para contrariar a minha própria percepção, é a cena nos créditos que é vendo a bolsa de dinheiro caindo pelas cachoeiras.

Ainda que pareça um deboche que o filme é péssimo, não é um deboche, mas o filme é péssimo. Não talvez pela trama, muitos filmes tem essa trama. Ele é péssimo por vários motivos. O primeiro é que tentou unir comédia com drama, e não deu certo essa história. Como eu disse, esse era o limite que já existia no primeiro longa, um erro na cena já daria um sentido diferente e até melancólico.

O segundo é que o roteiro não tem muito sentido. Um cara rico tem um vídeo feito para chantagem. Algo um pouco distante dos personagens da trama. Mas eles passam a ter alguma ligação porque a prima do Rodrigo, Simone é quem fez este vídeo (ainda estou confuso). Para ser sincero ainda não entendi muito como Jorge e Elói foram parar nesta história e nem como o personagens principais tiveram algo a ver com isso.

O terceiro é que o filme não tem as pegadas engraçadas do primeiro. Não há uma evolução dos personagens que conhecíamos. Mas se você pegou este filme, e não o primeiro, dá para perceber que não há muita complexidade neles. Você percebe que os irmãos Tonico e Amaral são habitantes do mundo ACME, vivem em um multiverso da loucura. O Danilo e a Simone são os irmãos trambiqueiros. Rodrigo e Jaqueline apesar de casados, não são um casal no filme, até me pergunto, porque o roteiro previa casamento.

Fazer filmes de comédia pode ser um desafio. Quando se trata de assuntos bem polêmicos, é cauteloso. Neste caso, as piadas em volta pecam pela falta de originalidade e de conexão com o chamado humor espontâneo. Que você não faz piada, mas a situação é hilariante. Diria que este filme é um fiasco como comédia, mas se você gosta de drama, ela talvez seja visto de uma outra forma e mesmo positiva. Mas para ambos os casos, o roteiro é muito sofrível.

Nota: 4 de 10.

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