Aviso: Contém spoilers.
Criação da origem e o personagem CORINGA
É um filme forte para mostrar a transformação de uma pessoa comum sob pressão, um passado delicado e negligenciado, que se transformou numa peça deturpada da profunda loucura, que é o Coringa. Com o pé no chão, podemos considerar este drama, o solo entre qualquer indústria de ‘fantasia’, DC, Marvel e entre outros, o que mais clama pela construção, no caso desconstrução, de um personagem literalmente, louco.

Antes de ver o filme vi apenas um trailer, mas não li as críticas. E dentro da formalidade linguística do cinema, é um filme que interpreta a transformação pesada de uma pessoa comum em uma pessoa louca. A pressão, a humilhação, a negligência. Não justifica que um fator leve ao outro, muito embora outro personagem que surge com sua origem no longa, o Bruce Wayne (Batman), demonstra o efeito cascata social que a produção que mostrar.
Se você já viu as produções de Kubrick, vai notar uma certa assinatura dele pelo filme. Foi o responsável por fazer 2001: Uma Odisseia no Espaço, empregue a linguagem do filme para um conceito dramático onde um personagem que tenta com todas as forças ser aceito pela sociedade, mas é massacrado por ela, e se transforma. A questão é que mesmo que saibam no que vai se transformar, ficamos surpresos.
Aqui fica um ponto, se a narrativa de Coringa fosse adaptada para a trilogia nova do Star Wars, veríamos um Anakin muito mais realista em sua transformação daquele menino escravo de Tatooine, num monstro chamado Vader. Uma das críticas gerais é que o filme ‘basicamente’ empurrou um Jedi em Sith sem mostrar esse processo.
Arthur Fleck, um homem amargurado, atuante como palhaço de propaganda de rua, sofreu uma intensidade em sua infância que definiu as sequelas que ele passa, mas não necessariamente as decisões que ele tomou.
Ouvi falar por terceiros que ele sofreu Bullying, acho que o termo é desmerecedor neste caso. Bully significa valentão, no caso dele, o sofrimento é mais profundo e estratificado, mais como, abuso físico e mental. Não haviam ‘atores’ que o fizeram sofrer, embora o namorado de sua mãe e sua mãe consciente do fator da violência, apenas deixara a tortura ocorrer.
Dá entender, embora na prática o emprego do Bully seja mais amplo do que isso, que ele sofreu desavenças na escola. Não, o abuso era consistente a um ambiente familiar que o moldou uma pessoa infeliz e covarde. Neste caso como fica omisso, acredito que a própria escola podia ser um ambiente de fuga e não de sofrimento, como dá entender com o emprego de Bully.
A ideia do filme era mostrar a origem de Coringa, o ator Joaquim Phoenix, conseguiu ser o melhor de todos os demais atores. Não é fácil criar um personagem que você sabe como será. Você precisa ser crível, senão cai no mais do mesmo. E mostrar como uma pessoa comum, quase invisível, dentro de um caótico mundo, poderia se transformar numa das pessoas mais famosas, degeneradas e temidas de uma cidade que o via como uma barata.
A história, como um comediante se tornou em um monstro?
Arthur Fleck trabalhava em uma agência chamada Haha! em Gotham City quando Bruce Wayne ainda era uma criança com seus pais vivos. Ele como todo mundo tentava ser uma pessoa honesta, trabalhando com o sorriso alegrando as pessoas, mas oprimido por um sistema que não o via como bom, apenas útil, piorava tudo, por ter problemas neurológicos, ele era motivo de chacota.

Após perder o emprego por um erro, e ser traído por algumas pessoas, ele ainda se via numa encruzilhada, mas tendo sobreviver. Quando acontece um inesperado fato. O Coringa não se tornou Coringa porque planejou, ele foi aos poucos moldando seu perfil, até se tornar um agente do caos. Um caos que o consumiu quando pequeno, que o fez quando adulto que o fez se tornar naquele garoto que queria ser aceito em um monstro que queria destruir tudo.
Após matar três pessoas em um metrô, entenda não foi aleatoriamente, ele por ter um distúrbio, ele ria em situações inapropriadas. Acabou provocando três homens que estavam assediando uma mulher. Ao passo que ele tentou explicar a condição, eles apenas apelaram para violência.
Por defesa própria, ele matou os três. E naquele momento que ele mata, você vê o monstro sair. Aquele construído por um Arthur Fleck, onde ele queria ser aceito e feliz, como sua mãe dizia, mas aquele que sofreu violência pura a vida toda, e que sabia que seu destino era apenas de loucura.
Os dois primeiros que ele matou, foram legítima defesa, já o terceiro ele simplesmente o caçou. Embora pareça peculiar, o sentimento dele de ameaça a sua legitima defesa se transformou naquele sangue fervente quando vemos um Faroeste. O herói sofre injustiça até que armado até os dentes acaba com o inimigo. Pense que apesar de tudo, a população considerou o ato dele mais do que uma violência, e sim uma luta, contra a elite o sistema.
O Coringa quando se transformou no icônico personagem, ele elevou o tom, que em Gotham existiam pessoas como ele que estavam no limite. Mais do que ele, se transformou em uma pessoa incomum, porém infelizmente, comum em situações onde os desfavorecidos não tem muita escolha. Durante a prisão de Coringa, após ele matar o comediante Murray (Robert Deniro) ao vivo, ele incitou na cidade uma revolução.
Parte daquelas pessoas não conheciam, não sabiam e nunca encontraram com ele, mas elas estavam como ele, massacrados. Em um momento do motim, os pais de Bruce Wayne são assassinados no Beco do Crime, como na cena famosa que vemos em quase todas as produções. A justificativa do crime é dita por quem pressionou o gatilho – “Você vai ter que o merece Wayne” e dispara no pai e na mãe. A cena posteriormente mostra mais uma vez, Bruce entre os pais mortos.
Lar infeliz e perspectiva.
Arthur Fleck durante o filme era tido como filho de Penny Fleck, uma funcionária que trabalhou por 30 anos nas empresas Wayne e alegava que seu filho era então irmão de Bruce Wayne. Eles viviam em um apartamento, um homem adulto, cuidando de sua mãe que já apresentava um quadro próximo a demência. O pé é que em certo momento ele busca indagar pelo próprio Thomas Wayne, o pai de Bruce, que ele é o pai dele.

Mas ele fala que não, e ainda incita que sua mãe é louca. Ainda que irado com essa possibilidade, ele busca a saber a verdade. E descobre que de fato, ele não é filho de Thomas Wayne e nem sequer filho de Penny. Ele é adotado, o filho biológico fora dado para adoção. E ele no lugar, sofreu com as violências de todos os namorados da suposta mãe.
Era considerado a casa dos horrores, dado a compreender, que sua infância foram neutralizadas através da intensa tortura que sofreu. Por causa disso, ele desenvolveu a risada descontrolada e ficou um tempo no Asilo de Arkham. Ainda que ia ao serviço social cedido pela prefeitura e tomava remédios para controlar uma vida que ele pensava em ter, isso tudo foi tirado e justamente pela crítica que o filme deixa claro – “Ganância destruindo mentes”.
O não cuidado pelos que sofrem, pode ser um problema bem mais sério. A realidade do filme é assustador. Não é a toa que se tornou um filme admirado por sua expressão da realidade, mostrando um personagem ora antes da fantasia, que só deveria existir por lá. Mas como o conto do Detective Comics (DC), Batman e Coringa são mais tangíveis que Superman e Lex Luthor.
Quando ele descobre que não tem ninguém por ele, ele simplesmente deixa o Coringa sair, e Arhur Fleck deixa de existir de vez. O Caos na cabeça dele, acabou sendo mais confortável, pois o que ele aprendera era somente isso. Da qual o fazia sofrer calado, quando tinha que ouvir sobre tudo o que ele achava de errado.
A crítica.
O que é mais chamativo no filme é que a crítica envolve o que aconteceria, o que pode acontecer, se a pressão por uma sociedade que busca demais, mas não reconhece, pode ocasionar. Ainda que Arhur Fleck tivesse algum zelo, seja por alguma sorte dele, ele se via em um ponto de cruzamento onde sua loucura era apenas o seu consolo.

Em determinado momento do longa ele cria um relacionamento com uma vizinha – sai com ela, vai em restaurantes. Mas no final, aquilo não passava de uma alucinação. Ele nunca havia tido um relacionamento com ela, ele não tinha uma vida.
Assim como todos, um invisível no meio da multidão. Ele queria que as pessoas o vissem. Ainda que menos pesado, o filme Fratura com Sam Worthingth, tem uma certa similaridade, quando você cria o que quiser, para preencher o que não tem e quer ter. Em outro momento, faço uma análise do filme em questão.
A psicologia do filme é enriquecida de aspectos que vemos, que repetidas vezes são ignoradas. Ainda que possa parecer ilusório, a história do Joker não é fantasia, e sim, já aconteceu de pessoas mal dizentes a vida, se tornassem um verdadeiro caos a humanidade, não falta na história, personagens que tinham um passado conturbado e acabaram- se transformando em Coringas na vida real.
A nota é 98.0
