Crítica da 1ª Temporada série Nightflyers (2018-)
Baseado em obra homônia de George R.R Martin.
Quando sentei para assistir a série Nightflyers, desconhecia totalmente o trabalho do autor do livro que a originou, apesar de ter inúmeras referências, os nove anos de Game of Thrones (não assisti) e de entender que a trama em uma pré fase de investimento de tempo ao me preparar em vê-la, seria uma pancada logo de cara, e não estava errado. Não que o teor seja ruim, nem que o roteiro tenha bastantes furos ou ainda que possamos considerar a obra como uma diversão.
Obras escandalosas do tipo, são ricas em acontecimentos chocantes e de personagens que vivem perdas em sucessivos momentos. Ainda que fosse um ausente ao trabalho de George R.R. Martin, nunca fui inocente ao gênero. E em Nightflyers temos uma mistura de horror, como loucura, insanidade, uma ficção, uma história, um grupo de personagens e aficionados por tramas grotescas.
Ainda que o grotesco seja interpretado como uma ofensa, não há alguém que vai discordar que cada episódio do pacote inicial da estreante série, consegue transformar o espaço num lugar aterrorizante, mas bem além do medo paralisante, temos o medo que nos fatia no silêncio, aquele que mais do que um alien monstruoso poderia nos acuar é aquele que não podemos entender, mas mesmo assim espreita no escuro, e de alguma forma, você está preso sem poder sair até resolver o problema.
Quando vi, dispensei o senso crítico e apenas assisti aos 10 episódios que foram sugados pelo tempo, pois nem vi passar e ainda achava que haveriam mais. Que acho determinante nesta crítica, é que não estou esperançoso de ver o resto da série, muitos seriados resumem o seu objetivo e como o desenrolar da história vai ocorrer na primeira temporada, aprendemos o Modus Operandi ali. E não gostei do que vi.
A construção da série, apesar de ter um roteiro extremamente deslizante, há furos em menos tempo que se possa pensar, é a forma como o formato é tratado. Geralmente gosto de histórias em que o universo é um outro ao nosso, e que podemos contar no mínimo quem a gente torceria para ganhar. Mas como ouvinte aos telespectadores de GOT e mais recentemente de TWD (The Walkind Dead), elenco fixo e temporário são os novos uniformes vermelhos (Star Trek: Série Clássica)¹, não existe para quem você torce.
Ainda que as mortes do elenco fosse a princípio algo inevitável, pois tratamos de uma história interessante. A raça humana sofre com uma doença chamada Célio. Embora no decorrer dos episódios não sentimos de fato que esse fardo esteja de fato preocupando os humanos, aliás parece ser um super surto de gripe do que uma pandemia ameaçadora. Um grupo recrutado pelo comandante da Nightflyers, uma nave terrestre, resolvem através dos cálculos do Dr. D’Branin que a resposta pode estar em uma espécie de veículo espacial alienígena.
Quando entramos juntos dos personagens na nave, logo nos identificamos com o filme “Event Horizon” que no Brasil foi dublado como Enigma do Horizonte (1997, Sam Neil) o possesso engenheiro da nave Dr. Weir que ficou eternizado por sua frase – “A realidade é muito pior” conta a história de uma nave (Event Horizon) que usa a dobra do tempo para viajar para localidades longes, mas o experimento dá errado e a nave vai para o inferno por 7 anos, literalmente o inferno. E volta.
Ainda que possamos enumerar alguns títulos similares a obra como Dead Space, aquela câmara aberrante de Alien 4 a Ressurreição com a Rainha Alien tendo seu filho mais horrível ainda, podemos citar a Nostromo como material irmão estético, mesmo piso e mesmos corredores escuros. As obras criam uma ótima referência, mas não superam o circo de horrores, talvez os mais acostumados com esse conteúdo não fiquem surpresos.
Uma volta pela internet provou-se certeiro que apenas os que gostam da trama de GOT e se mantiverem fiéis a ela, acharam a obra inigualável e com certeza serão frequentadores assíduos das próximas temporadas. Mas existe um sobreaviso sobre obras grotescas. Elas costumam aumentar de intensidade conforme o tempo passa e não para em um limite conhecido. A série não possui dificuldade em sua interpretação, nem a forma como ela aborda os seus problemas.
Ainda que fosse possível confundir a cabeça de alguns, os episódios são pontuais. Eles contam um pouco sobre o trajeto terra e nave alienígena, poucos eles sabem sobre a raça Volcryns, temos personagens traumatizados, pegamos alguns pontos sobre a raça humana e o quanto ela é antagônica ao universo de Star Trek (Federação não existe por aqui) está mais para uma realidade pessimista da sociedade.
A ficção científica da obra é centralizada em segredos da nave. Os segredos são excelentes. Porque descobrimos inclusive a relação da mãe Cynthia com o seu filho Roy, depois a trama nos presenteia (ou levamos uma voadora) que Roy não é o seu filho e sim um clone e que o DNA que corre em suas veias, também corre nas de Melantha, e sua conclusão é óbvia. Pois Melantha e Roy passam a ter um caso.
Ainda temos a visita as astronautas que preferiram matar seus comparsas, torturar por mais de 15 anos o capitão e dele tirar o sustento, produzindo clones para um canibalismo, pelo menos consciente, já que os clones eram produzidos desprovidos de autonomia e células complexas. As mesmas cientistas eram as responsáveis pelos projetos genéticos que tornaram possível Roy e Melantha.
E abandonadas pela raça que nem sequer se preocupou em procura-las. Cientistas de renome no campo científico, foram abandonadas no quintal de casa. No quintal, pois elas estavam bem mais próximas do que se podia imaginar. Temos uma absurdo de acontecimentos que vão de um surto aceitável de Rowan a uma amnésia inaceitável dos seus atos. Ele mata, surta, acalma e volta para tripulação em um rito de águas passadas.
Ainda que não fosse um furo de roteiro, poderia fazer parte da sociedade humana, já que há muitos flashbacks pertencentes aos demais personagens que nos fazem pensar se a raça humana não esta vivendo no universo que a Event Horizon foi parar. Mesmo o roteiro picotado, teríamos uma boa história? Tem que goste de tanta miscelânea, não sou um excludente desse grupo.
Mas a narrativa de Nightflyers não exige um elemento interpretativo acima da média e nem reprises para compreender o fio da meada. Mas os choques da trama nos paralisa diante de tanto segredo e de tanta loucura a bordo.
Que questionamos se todos os personagens não são as várias facetas de apenas um, ou os Volcryns criaram uma raça parasita que nos atacou através do Célio ou ainda, que mesmo diante de tudo, a raça humana é apenas uma simulação.
O sobreaviso fica para o teor que é pesado, pode ser impressionante para alguns públicos, com certeza haverão marcas na história que serão intimidadoras e outras geraram mal estar. É uma série que tirando a ideia provocante de assustar pelo o que assusta as crianças (Sombras no escuro) e não por monstros aterradores (Alien), poderia ser bem melhor. Mas que precisaria ser menos corrida, menos torturante e menos sem noção.
Nota:
50.0
