Sega apostou certo, mas mesmo para jogadores Stealh, pode ser uma dose baixa.
Durante anos jogamos a versão alien que James Cameron idealizou em sua obra em 1986 intitulada apenas como Aliens, no português com o subtítulo – “O resgate”. Munido de uma metralhadora, um lança-chamas e um radar, matar aliens era como matar baratas. De títulos como SNES, NES e Mega Drive, nunca houve tantas formas de ver os aliens, inclusive até mutantes. Alien-Mosca, Alien Pássaro, Alien cachorro. Depois de Aliens Versus Predador, e de Colonial Marines, será que a Sega trouxe o terror de Ridley Scott á bordo?
A proposta inicial era de trazer o ambiente assustador e sufocante de Alien de 1979 dirigido por Ridley Scott. Com ambientes igualzinho a Nostromo, com a música do filme e os ruídos dando frio na espinha, prepara-se, Alien Isolation é a premissa da Sega com uma nova cara, o survivor de um Alien que é o mais temido do universo. Mas a dose não saiu certeira, entenda porque.
Amanda Ripley é atualmente funcionária da Weyland Yutani, com 26 anos ou seja, 15 anos após o sumiço de sua mãe e a nave cargueira Nostromo, para todos, uma incógnita. A nostalgia dos ambientes nos fazem apreciar o jogo como uma obra prima. A cena de introdução reproduz a gravação de encerramento de Ellen Ripley na nave Narcissus.
A ideia é recriar a atmosfera fria, isolada, sufocante e sem saída de Alien. Conseguem? A Sega, como toda produtora, tem muito a desenvolver na questão de narrativa, nunca foi fácil. Aliar a trama com uma história que cause efeito, ou pelo menos, faça sentido. Se muitos criticaram Colonial Marines porque estavam saturados da franquia de James Cameron, a vez foi de recriar o ambiente que deu a origem a criatura mais perversa do universo.
Tudo envolve a caixa preta da Nostromo, que fora achada por uma estação espacial estacionária que tem a mesma arquitetura do cargueiro. A diferença é que parece mais a USS Ishimura (Dead Space). As analogias começam a aqui. Ao invés de aliens necromânticos, temos um xenomorfo que vem a bordo. Mas tudo parece tão misterioso não é? Como é que ele veio a bordo? E o que aconteceu com a estação? Mas aqui começa os pontos fortes e fracos do título.
Tudo no jogo lembra o primeiro filme. Disso ninguém pode negar ou criticar. Gráficos, sons, trilhas, cenários e os acessórios. Não podemos esquecer do trabalho realista do alien. É de impressionar, na verdade, o primeiro encontro é de causar nervoso. Primeiro que surge aquela música típica, aquele cenário escuro cheio de fumaça saindo de tudo que é cano, luzes ao fundo confundidos com as luzes de seu relógio de pulso. Sabe a cena do elevador? Ela tem aqui, e o pior, a cada momento que a criatura se aproxima, a música fica mais complexa e alta.
A tensão é unica, a tensão é extremamente pesada. É a primeira vez que senti a mesma sensação que tenho ao ver filmes de terror, onde você não vê a ameaça, mas sabe que ela está na esquina, e não é muito bonita. O terror do filme supera qualquer survivor que tenha no mercado. Silent Hill é ficha perto disso. Dead Space, não se engane, Alien é mestre em ‘matar’ o jogador de medo. O recente P.T, se achava que aquilo dava medo, experimenta jogar Alien Isolation em uma tela de 37” para cima, com Home Theater e de preferência num quarto grande. É de gelar a espinha.
A imersão no game é imediata, primeiro que identificamos muito bem a franquia Alien, e sabemos o que isso significou para os personagens da Nostromo. E agora você é quem vai ficar na pele cara a cara com o bicho. E mais, você não conseguirá mata-lo, especialmente porque a única forma pode ser não tão convencional e muito menos acessível tão breve assim. A realidade do jogo é a seguinte: Você deve esquivar dos humanos e do alien o tempo todo, e os sons ambiente não te ajudam a concentrar.
Parece filme, mas encarar um xenomorfo de 2 metros não é uma tarefa fácil. E não pense que será em algum momento do jogo. Dar de cara com ele só resta uma opção, correr. E não adianta muito, ele corre mais rápido e te mata. Portanto evite-o, no começo do jogo sem o radar, entenda, é frustrante. Apesar dos barulhos que ele faz anunciando sua aproximação, os sons ambiente te confundem. E digo a trilha inclusive. Quando menos espera ele está do seu lado. Quando percebi, ele estava andando na minha direção. Achei fantástico a animação, incrível, mas frustrante.
A dificuldade do jogo é no entanto uma cópia viva da série antiga do Resident Evil. A mecânica do game limita suas ações, impossibilitando inclusive alternativas quando mesmo elas seriam acessíveis pelo ponto de vista lógico. Mas de acordo com o roteiro do jogo, você não tem acesso á elas. E isso pode tornar o jogo um HELL de difícil. A combinação da qualidade sentida no ambiente é incomparável, e nenhum outro jogo do Alien conseguiu chegar neste nível, mas infelizmente alguns pontos tornam o título um pouco decepcionante.
O primeiro ponto negativo é a distância de um Save para o outro, apesar de gostar bastante da novidade de como a plataforma de salvamento se apresenta no jogo, sendo em tempo real, sendo preciso olhar para todos os lados antes de executar o registro. Mas o problema é que existem ‘mapas’ complicados entre cada save. Na verdade a ‘ação’ torna-se freada caso você morra. Como o jogo é um Splinter Cell que preza pelo silêncio absoluto, sair atirando pode ser fim da linha, NA VERDADE, é sempre o fim da linha.
Se achar que os humanos te matam sem problemas, nem se preocupe com o Alien, se ele te ver, é mais fácil ir na direção dele. O campo de visão da criatura é a abrangente. Numa segunda tentativa, apesar de estar longe, agachei e sai esgueirando pelas paredes, mas ele já tinha me visto quando estava estacionado. E rápido como um guepardo, me matou cerca de 5 segundos depois. A ação do jogo é igual aos jogos do NES, se o bicho te pegar GAME OVER. Lembra do último SAVE, onde que ficava mesmo?
Outro ponto não é escassez de munição, arma e material. Faz parte da trama, se não fosse por isso, não haveria muito sentido em pensar mil vezes antes de passar por uma esquina. Se der de cara com um humano as chances aumentam se der de cara com um xenomorfo, é bom cantar uma música enquanto ele faz a festa. Na verdade os encontros com Alien são especiais, mas muito do mesmo, você entra no lugar, ele fica alerta. E faz movimentos que parecem espertos, mas apenas seguindo uma rota. Se você grava-la, fica fácil de passar.
A jogabilidade é outro ponto que dá nos nervos. Como o jogo é modo stealh eterno, todos os movimentos de Amanda são condicionados ao mínimo esforço. Mas são ‘quadrados’. Se você correr, e tentar virar numa esquina vai perceber que ela faz um movimento Frankstein. O que atrapalha em muito, em especial caso ‘tente’ fugir do Alien.
Outro é a física, bem se você fica nas sombras espera estar escondido, certo? Não, é mais fácil se esconder em alguma tubulação ou ficar atrás de algum armário, porque se esgueirar para pegar seus inimigos (humanos) pode te denunciar. E mais, se um vê , todos veem. A IA do jogo é outro ponto, bastante ruim, terrível na verdade. Como os seres humanos e o alien, a IA segue uma rota única, a repete mil vezes. Aprenda, e terminará o jogo tão rápido quanto o encontrou na loja para comprar.
No entanto a movimentação dos seres humanos lhes conferem um ar robótico, os lábios, os olhos mal se mexem direito e forma realística. Parece uma animação do Time Commando (é velharia do PC) de meados de 1998. Não é tão exagerado assim, mas se contar custo e benefício + 200 reais, é um trabalho feita as pressas. Ao contrário do Alien que é realista, tanto em movimento quanto em detalhes. Apesar disso, após alguns encontros, ele deixa de ser o bicho papão, e passa ser uma chateação sem fim.
As fases repetitivas, bem após a sensação nova, você começa a sentir muito do mesmo. Humanos que agem da mesma forma, Alien que fica trançando de lá para cá, abrir portas, achar arquivos, fechar portas, fugir do xenomorfo. Animação mecânica, morte inesperada, VOLTA TUDO, pelo menos até o último SAVE. Mas nem tudo está perdido: De tantas falhas, sempre há mais luz no final do túnel.
Mesmo batendo na tecla de qualidade excelentes de gráficos do alien, os cenários muito bem trabalhados, efeitos das armas, do fogo, acabamentos do filme, fidelidade do filme, o principal que tange a jogabilidade, mesmo aos que gostam do estilo de um jogo mais lento que precise de atenção, acabam em prejuízo. Na verdade o maior suspense do jogo é o Alien. Mas a trama da Sevastopol chega a ganhar muita notoriedade.
Na verdade ela não tira o foco do Alien, mas isso torna as coisas mais ‘conhecidas’ em pouco tempo, mata o suspense e portanto em breve momentos é mais fácil se assustar com a cenas dos aliens ‘gesso’ de Colonial Marines. A ação é toda mecanizada, basta que você ande, e terá um Alien á sua cola. O que destaco o ponto positivo sobre a jogabilidade fraca, os arquivos da Nostromo e da Sevastopol torna tudo mais interessante. Achar as ID de cada tripulante da estação.
Neste ponto a coisa imita muito o Dead Space. Dá para ver que a Sega bebeu da fonte da Visceral. Mas deixou a característica da ‘repetição’ atrapalhar o bom título. Se a tensão fosse constante, permitindo uma jogabilidade mais solta, mais open world ou sandbox, o desafio poderia ser nivelado, dando aos jogadores uma liberdade de ação, mas tendo que enfrentar uma criatura imbatível. Mas tudo fica pior, se além de imbatível, você está algemado.
Apesar de haver o modo sobrevivente que o coloca em mini-missões paralelas a campanha, e a presença da expansão Nostromo Edition que traz uma fase baseada na obra no lugar de Parker, Lambert ou Ripley para empurrar o alien na ventilação e o Last Survivor que traz Ripley na Narcissus e na batalha épica entre ela e o Alien num espaço minúsculo.
Survivor x Ação x Open World-Action-Live
O maior conflito neste título não tem haver com a obra criada acerca do alien, dos cenários e a trilha sonora. Uma obra perfeita, mesmo que elucide algumas imperfeiçoes. Se há uma afirmação que resuma o quão Alien Isolation superou os títulos anteriores, ela se chama “Fidelidade”. Mas o jogo pecou em regras demais. No início nota-se o grupo de abordagem formados é ‘forçado’ a se separar após serem apanhados por destroços criados por uma explosão na estação.
Esta ‘regra’ do sozinho, já criou uma situação atípica. Uma sensação de “Não teve uma ligação mais plausível para fazer a Amanda ir sozinha, vamos colocar um incidente”. O problema não seria esse, na verdade é interessante, mas a nave não viu que ela entrou por aquela escotilha? Por que averiguar todo o local? E como eles pretendiam fazer isso? Navegar sem auxilio de comunicação e instrumentos? Então esse elemento foi realmente forçado, tudo para deixa-la sozinha.
Apesar da atmosfera de medo, o Alien chega com maestria. E sim faz bonito. Com cenas memoráveis dos filmes. Mas após a descida da ventilação, o qual é possível ver a criatura andando como se fosse a maioral, você pensa, agora vai ser osso lutar com ele. Vai ser osso mesmo. Sem falar que é mais provável que seu osso esteja corroído, A tentativa de acerto e erro é o que o jogador vai atestar nas primeiras fases. Até ter um mecanismo de ajuda, como o rastreador e uma arma mais potente que garanta que o Alien seja menos ofensivo, o jogo será um “DEAD-LOAD-TRY AGAIN”.
Apesar de ficar lisonjeado pelo xenomorfo me abocanhar no jogo, aliás, fui emboscado pela criatura duas vezes. E foram memoráveis. Quem diria alguém afirmar que é bom ser pego pelo alien. Mas não posso negar que a animação é perfeita. Mas ao mesmo tempo, quebra muito o ritmo. Após diversas tentativas, não foram poucas, consegui entender a tal da ‘rota’ do alien. Ela sempre a mesma. Circula o local, entra numa ventilação sai pela outra. Anda em duas patas, depois corre em quatro patas. As vezes fica procurando, parece que deu bug, mas não.
O que pode tedioso é ser morto por nada, ou pelo menos até entender o quão grande é o campo de visão dele. Tirando os humanos que te veem ao menor movimento. Na verdade eles são cegos na medida que você consegue ver os rostos deles. Neste ponto eles conseguem te ver, é uma distância média. Basta te verem, nem precisam gritar ou alertar. Você ouve tiros, todos os inimigos do mapa convergem na sua posição, não importa se deixou rastro ou não. E o jeito é ficar escondido até a música sossegar.
O alien a coisa é diferente. Ele está sempre alerta, então se te ver. Ou sai correndo da fase para termina-la, ou arranja um jeito de se enfiar num armário antes que ele te encontre. Atirar nem pensar, bater com o cano nele? Bem se aproxime e verá a animação do ‘dente na fuça’. É fantástica, mas não para sua paciência. Não há Checkpoints, apenas saves manuais e em pontos específicos. É, o jogo não está do seu lado mesmo. Mas por outro lado, a proposta da Sega era de trazer uma história do universo Alien, conseguiu fazer a ideia valer a pena.
Os cenários são envolventes, a música é de alta qualidade, algumas remixagens da película original. Foi uma ideia sacada colocar uma nave igual a Nostromo, simplesmente para criar a atmosfera do filme que fez muita gente pular mais alto mesmo sentado. A tensão é única, é um jogo-filme que realmente demonstrou que fazer medo nos video game é uma realidade.
Conclusão.
O título Alien Isolation é uma réplica do universo de Ridley Scott com a reprise de elementos do filme que nos leva ao passado e demonstra que o clima de tensão pode ser real. O esforço é bem recebido, e vai ficar registrado que foi o primeiro título da série que abordou a Nostromo e a história original como base da trama. Houve uma mistura de games para dar vida a ao AI, que deram certo, a fórmula do Dead Space dá uma sensação bizarra e ao mesmo tempo aterradora, mas que traz um personagem superiormente mítico, ninguém supera o xenomorfo.
Embora as críticas do Mundo Pauta sejam positivas e extremamente bem posicionadas no padrão de qualidade de gráficos, texturas bem trabalhadas, cenários fiéis. Não há como negar que a jogabilidade e a mecânica do jogo ficaram seriamente comprometidas. A proposta de Stealh é adequada especialmente que é um jogo de gato e rato, mas não há muito o que falar quando que há uma inteligência artificial estritamente fraca e abaixo da média.
Não o que esperar de surpresa quando o que realmente importa é a surpresa. A expectativa de muitos podem ser ou não de um jogo sem muita ação, voltado para craft (construir) e sobreviver (survivor), uma exploração que merece uma oportunidade. Não é todo dia que podemos experimentar o que Ripley fez, e com tanta segurança, não é mesmo? Mas a magia do jogo se perde após algumas poucas horas. O tédio toma conta, a primeira vez pode acabar sendo a única, já que o jogo pode ser extremamente chato para alguns.
Para outros que curtem o modo Stealh, e estão preparados para lidar com ameaça, pode chamar de Alien Isolation de seu, e viver o terror no espaço, onde ninguém vai ouvir os seus gritos. Contando todos os prós e contras, não seria justo impor uma nota que fosse baixa para a primeira obra que conseguiu trazer para as plataformas o filme original, que com esforço foi possível demonstrar que o susto pelo desconhecido é algo bastante plausível nos games.
A jogabilidade é sofrível, mas não impede que os jogadores persistam e passem a ver o jogo com outros olhos. E talvez o que esperavam, não é exatamente uma decepção, mas um ponto de vista diferente. Mesmo com os erros comuns nos mais diversos títulos, quase nenhum escapa de alguma gafe, Alien Isolation chegou perto e recebe a nota 85.0.
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